Westworld é aqui

O canal por assinatura HBO lançou há pouco tempo a série Westworld, escrito originalmente por Michael Crichton, autor de clássicos como Plantão Médico e Jurassic Park, e com elenco estrelado com atores do nível de Anthony Hopkins, James Paul Marsden, Jeffrey Wright, Thandie Newton, Evan Rachel Wood e também do brasileiro Rodrigo Santoro.

O filme mostra um parque temático ambientado no Velho Oeste americano chamado Westworld e temanfitriões – androides construídos com tecnologia avançada, que atendem os desejos, dos mais simples aos mais sórdidos, dos ricos visitantes, que podem fazer o que bem entenderem sem medo de retaliação, sem a necessidade de seguir qualquer Lei.

A trama do seriado vai se desenvolver a partir da capacidade de consciência dos anfitriões, que passam a perceber que suas vidas são controladas e que tudo aquilo não passa de uma mentira bem elaborada por mentes poderosas que fazem de tudo para controlá-los. Afinal, os robôs não são mais do que marionetes para eles.

Como estudante de psicologia, leitor neófito de filosofia, comunicador e político, gosto muito de fazer paralelos entre o real e a ficção. O que cada um de nós seríamos capazes de fazer se tivéssemos a oportunidade dos visitantes de Westworld? Se pudéssemos passar por cima das Leis, realizar os mais profundos desejos, dos mais violentos aos mais puros?

As vezes penso que pessoas com esta mentalidade estão mais perto de nós do que imaginamos. Pessoas que conquistam algum poder, sejam juízes de direito ou promotores de justiça, políticos, empresários bem-sucedidos, jogadores de futebol, policiais etc. Quantos indivíduos que ocupam estes postos não agem como se fossem os deuses encarnados? Quantos passam por cima das Leis que regem nossa democracia?

Desde um prefeito que faz tudo que lhe vem na telha (até mesmo ir surfar em dia de expediente e postar o fato em redes sociais quando os funcionários públicos do município administrado por ele estão com salários atrasados), até um empresário milionário, como o candidato a presidente dos EUA Donal Trump, que foi gravado afirmando que por ser rico poderia penetrar a mulher que ele quisesse. Em todo lugar tem gente que pensa assim.

Carl Jung nos trouxe o termo inconsciente coletivo, que seria uma herança herdada ao longo do desenvolvimento do homem que nem sempre podem ser expressas, e Erich Fromm usou inconsciente social para descrever a experiência inconsciente coletiva dos seres humanos que a sociedade repressiva não permite que chegue à consciência dos indivíduos.

Quando os indivíduos começam a ter a consciência do que acontece, os que estão no controle passam a enfrentar resistência e há o possível início de uma revolução. Ora mais tensa, ora mais discreta, seja através de manifestações ou do voto, no caso das democracias.

Lá em Westworld os androides podem ser consertados, o programa “resetado”, os problemas amenizados. Na vida real as cicatrizes são mais difíceis de curar. A palavra dita não pode ser apagada, a injustiça cometida vai sempre ser lembrada. Na ficção apresentada pela HBO é instigante, quando na vida real é preocupante e revoltante.