Um coração preso ao olhar alheio nunca alcançará a paz

preso
São João da Cruz tem uma frase muito interessante que diz o seguinte: “Pouco importa se o passarinho está preso por um fio grosso ou fino; ele ficará sempre preso e não poderá voar”. Agora. pense que o passarinho é você e se pergunte o que tem te impedido de ser verdadeiramente livre.

Para saber se somos pessoas livres ou não, precisamos primeiramente entender o que é essa tal liberdade. Alguns podem dizer que liberdade é poder fazer o que quiser. Outros podem dizer ainda que liberdade é um direito adquirido, é o poder de ter autonomia e espontaneidade. Enfim, podemos encontrar inúmeras definições de liberdade feitas por filósofos, pensadores, cientistas ao longo da história, mas nessa reflexão não iremos fazer um tratado filosófico sobre liberdade, então não precisamos desses conceitos por enquanto. Aqui eu gostaria de chamar a atenção para a liberdade interior, aquela sensação de paz que a gente nutre dentro do nosso coração quando não prendemos nossas ações aos nossos desejos carnais, ou aos desejos exteriores que nos são impostos por algum motivo.

Podemos estar presos às nossas inseguranças, aos nossos medos, às nossas ansiedades ou ainda presos aos olhares da sociedade, o que por vezes acaba direcionando nossas ações e gerando certa inquietação interior, que rouba a paz do nosso coração. Gostamos de dizer que somos livres, independentes, mas no fundo, se formos olhar bem de perto, agimos como marionetes, presos aos olhares do mundo sobre nós, sempre preocupados com o politicamente correto, com as palavras certas para usarmos em nossas publicações em nossos perfis nas redes sociais, nas conversas em família, com amigos, vivendo à mercê do mundo. E se por acaso resolver ir contra a corrente e disser que é livre na vontade de Deus a partir do olhar de Deus sobre a nossa vida, aí não pode, todo mundo já acha que somos bitolados, retrógrados, fracos que se escondem embaixo da Bíblia. Um tremendo paradoxo: posso ser guiado pelo olhar do mundo sobre mim, mas não pelo olhar de Deus.

Santo Agostinho já refletia sobre essa nossa condição quando dizia o seguinte “Um homem bom é livre mesmo quando é escravo. Um homem mau é escravo mesmo quando é rei. Não serve a outros homens, mas a seus caprichos. Tem tantos senhores quantos vícios.” Se formos sinceros conosco, podemos afirmar categoricamente o quanto é ruim essa condição de escravo dos nossos caprichos, da necessidade de se encaixar em algum grupo, de estar longe do olhar de Deus. Essa prisão gera inquietação, tristeza, falta de sentido. Para sairmos dessa prisão é preciso que reconheçamos que Deus é o Senhor da nossa vida. É preciso decidir onde queremos ancorar nossa liberdade: nos olhares do mundo, que nos trata como objetos, simples marionetes, ou no olhar do Senhor, que nos trata como filhos amados.

Quer você queira, quer não, nossa vida só tem um sentido: o sentido do Céu. Para alcançarmos esse sentido pleno, somente olhando fixos no olhar do Senhor é que atingiremos o objetivo. Talvez você não acredite em Deus, no céu, na eternidade. Tudo bem, isso não muda o fato de tudo isso existir. Você pode escolher viver preso ao mundo material, às inquietações próprias dessa escolha e chegar ao fim da vida sem poder responder a grande questão: “Quem sou eu?” Ou você escolhe se prender ao olhar de Deus, seguir o caminho de santidade e, ao fim da vida, responderá essa questão como Santa Teresinha: “Eu sou o que Deus pensa de mim”.

Deus é tão bom que nos permite esses dois caminhos. Ele não é um tirano opressor que impõe sua vontade a todo mundo. Ao contrário, Deus é um Pai bondoso que apresenta Sua vontade aos filhos e fica no aguardo de que façam suas escolhas. Isso é a verdadeira liberdade, o poder optar pelo Senhor que me faz verdadeiramente livre e feliz, como testemunhado por grandes homens e mulheres que fizeram essa escolha e deixaram um legado de inspiração para nós. Ou você pode escolher pelos vícios que nos prendem aos modismos de cada época, gerando inquietações em nossos corações; tal escolha é testemunhada por tantos homens e mulheres que deixaram seu legado de escravos dos vícios.

É para que sejamos homens livres que Cristo nos libertou. Ficai, portanto, firmes e não vos submetais outra vez ao jugo da escravidão” (Gl 5, 1). Se você é cristão e vive inquieto, preso aos grilhões do mundo, medite nessa frase, volte seu olhar para o Olhar de Cristo e não tenha medo de abraçar a verdadeira liberdade, seja qual for sua condição atual. E se você não acredita em nada disso e está lendo esse texto por curiosidade, fica o convite: faça essa experiência de olhar para Cristo e O desafie a te mostrar essa tal liberdade verdadeira.

Que o Bom Deus nos abençoe e a Virgem Santíssima nos ajude a permanecermos sempre com o olhar fixo no Senhor que liberta nosso coração para a verdadeira paz.

Fernanda Guardia
Consagrada da Comunidade Católica Pantokrator

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