UE busca resposta unitária a tarifas de Trump, mas grau de agressividade da retaliação divide países
Por RFI
No encerramento da reunião, o comissário Europeu do Comércio, Maros Sefcovic, alertou que a UE estava preparada para usar “cada ferramenta” de defesa comercial disponível. “Estamos preparados para usar cada ferramenta do nosso arsenal de defesa comercial para proteger o nosso mercado único, nossos produtores e consumidores”, disse o diplomata eslovaco, considerado experiente em negociações comerciais.
Uma das ferramentas mais poderosas da UE é o “mecanismo anticoerção”, adotado em 2023, que bloqueia diretamente o acesso aos mercados públicos do bloco.
Ao chegar à reunião, Sefcovic alertou sobre a gravidade da situação, pois envolveria responder “ao que eu descreveria como uma mudança de paradigma no sistema de comércio global”.
Em 2 de abril, o presidente norte-americano, Donald Trump, anunciou tarifas generalizadas sobre as importações, com uma tarifa de 20% para os países da União Europeia, e agora o bloco precisa decidir como responderá.
Nesta segunda-feira, ignorando o impacto de sua guerra comercial nas bolsas de valores em todo o mundo, Trump ameaçou aplicar mais 50% sobre os produtos chineses, a partir de 9 de abril, se Pequim continuar com suas represálias tarifárias. “Além disso, todas as negociações com a China sobre suas reuniões solicitadas serão suspensas”, ele alertou.
Comissão Europeia ofereceu tarifa zero
Em Bruxelas, Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia – o braço Executivo do bloco –, disse que ofereceu aos EUA um acordo de tarifa zero sobre produtos industriais. Segundo Von der Leyen, a proposta foi feita “reiteradamente”, mas ela explicou que a ideia não provocou uma “reação adequada”.
Nesta segunda-feira, o ministro do Comércio da Suécia, Benjamin Dousa, disse: “Queremos mais comércio e mais cooperação com os Estados Unidos, mas a UE está unida. Somos a favor de soluções negociadas”.
O ministro da Economia e Comércio da Alemanha, Robert Habeck, afirmou que a Europa deveria estar preparada para usar todas as suas armas contra os Estados Unidos.
França, Espanha e Irlanda divergem sobre retaliação
O ministro do Comércio francês, Laurent Saint-Martin, observou que o bloco não deve descartar a possibilidade de uma retaliação mais firme. “Não devemos excluir nenhuma opção em relação a bens ou serviços, independentemente de como a abordamos, e usar a caixa de ferramentas europeia, que é muito abrangente e também pode ser extremamente agressiva”, observou.
A França, disse o ministro, é a favor de “fazer todo o possível para preferir a cooperação e a negociação à escalada e ao confronto”. No entanto, ele acrescentou, o bloco europeu deve “mostrar o que podemos fazer em termos de resposta”, e a posição da França é manter “todas as opções sobre a mesa”.
O ministro espanhol, Carlos Cuerpo, disse que os países da UE devem manter a “cabeça fria”. Segundo ele, “devemos deixar claro que a Europa não quer esse conflito comercial e que estamos apenas respondendo às medidas injustificadas e completamente arbitrárias que foram colocadas sobre a mesa”. O ministro espanhol frisou que a resposta da UE “sempre será justa e proporcional. Esse é o elemento essencial com o qual devemos começar esta discussão”, insistiu.
O ministro das Relações Exteriores e Comércio da Irlanda, Simon Harris, alertou para o risco da adoção pela UE de represálias contra as empresas de tecnologia dos EUA. “Seria uma escalada extraordinária em um momento em que deveríamos estar trabalhando para diminuir a tensão”, disse ele.
Proposta de Musk é “boa ideia”
A presidente da Comissão Europeia disse que continuava aberta para negociar com os Estados Unidos. “A Europa está sempre pronta para um bom acordo. Então, nós o mantemos na mesa. Mas também estamos preparados para responder com contramedidas e defender os nossos interesses”, disse Ursula von der Leyen.
No fim de semana, o bilionário Elon Musk, assessor do governo americano, disse em uma entrevista que esperava uma zona de livre comércio entre a Europa e os EUA.
Em resposta a essa ideia, o ministro da Economia alemão, Robert Habeck, disse que se Musk tivesse “algo a dizer, ele deveria ir até seu presidente e dizer: ‘Vamos acabar com esse absurdo, essa bagunça.'”
O italiano Antonio Tajani afirmou que seu “sonho” era um “mercado único transatlântico livre de tarifas”, e o francês Laurent Saint-Martin chamou as declarações de Musk de “uma boa ideia”.
Com AFP