Tributo Ana Floriano – por Geraldo Maia

Tributo Ana Floriano – por Geraldo Maia - [email protected]

Tributo Ana Floriano (Geraldo Maia do Nascimento – [email protected])

 

No dia 8 de março, durante as comemorações do Dia da Mulher, estive no auditória da OAB de Mossoró, onde a Prefeitura Municipal fez a entrega da Comenda Ana Floriano. A Comenda Ana Floriano é concedida anualmente, por meio de Decreto Municipal, sempre no Dia da Mulher (8 de março), e tem como principal objetivo homenagear mulheres de destaque que contribuíram para o desenvolvimento político, social, cultural e econômico de Mossoró. Nesse ano de 2024 recebeu a Comenda a Desembargadora Maria Zeneide Bezerra, em reconhecimento ao seu trabalho e empenho pela justiça social e defesa das mulheres vítimas de violência doméstica.

A homenageada, Dra. Maria Zeneide Bezerra, é formada em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), turma de 1969 a 1973. Tem pós-graduação em Administração Municipal pela Escola Nacional dos Serviços Urbanos em 1976; e em Direito Civil e Comercial na UFRN (I Curso de Especialização em Direito Civil e Comercial, em 1978).

Quanto a Patrona da Comenda, Ana Floriano, austera dama de nome e atuação ligada a história de Mossoró, chamava-se Antônia Rodrigues Braga, mas por ser casada com Floriano da Rocha Nogueira, tornou-se comum chamarem-na de Ana Floriano. O casal era os pais do jornalista Jeremias da Rocha Nogueira, fundador do jornal O Mossoroense e pioneiro da imprensa escrita de Mossoró nos idos de 1872.

Não existe fotos de Ana Floriano. A ilustração que aparece sobre ela é de um retrato falado. Ela foi descrita como uma mulher de estatura alta, de olhos azuis, cabelos aloirados, sendo uma pessoa de gênio explosivo, sempre dando demonstração de sua austeridade e coragem quando se fazia necessário.

Antônia Rodrigues Braga (Ana Floriano), por suas características físicas, não devia ter nascido em Mossoró e talvez nem no Brasil. Não há como confirmar, pois, os livros de assentamento de matrimônio e outros atos civis, no período de sua atuação, desapareceram. A versão mais acentuada é a de que a mesma era de naturalidade portuguesa. Seu irmão, Antônio Rodrigues Braga, era luso, segundo consta nos arquivos da Loja Maçônica “24 de Junho”, a cujo quadro pertencia como membro ativo e através do jornal O Mossoroense, em sua edição dos idos de 1874, quando o mesmo subscrevia um agradecimento as pessoas amigas que acompanharam o sepultamento de um dos seus patrícios, ocorrido nesta cidade.

Entrou para a história de Mossoró por ter encabeçado um movimento contra a obrigatoriedade do alistamento militar para jovens, movimento esse que ficou conhecido como A Revolta das Mulheres.

A Guerra do Paraguai havia terminado em 1870 e o país tinha tido muita dificuldade em substituir os soldados mortos, por falta de uma tropa de contingência, pessoas treinadas para a guerra. Já em 1875, o então Visconde do Rio Branco (José Maria da Silva Paranhos), que era Presidente do Conselho de Ministros, pensando na segurança do país, resolveu publicar uma lei convocando os jovens para o alistamento militar, onde seriam treinados para defender o Brasil quando necessário fosse, como acontece até os dias de hoje. Mas essa medida não foi bem aceita pela população que achava que os jovens estavam sendo alistados para outra guerra (diziam até para a Guerra do Paraguai, mesmo essa já tendo terminado a mais de cinco anos). Houve revolta em várias cidades do Brasil, principalmente aqui no Nordeste. Em Mossoró, cerca de 300 mulheres, lideradas por Ana Floriano, armadas com panelas das quais tiravam um som ensurdecedor, fizeram refém o escrivão de paz na Praça da Liberdade e rasgaram o livro e os papeis que recrutavam os homens mossoroenses. Houve enfrentamento com a polícia, de onde saíram várias mulheres feridas. Claro que não tiveram sucesso nos seus intentos, pois até hoje ainda é obrigatório o alistamento militar para jovens. Mas foram corajosas o suficiente para defender aquilo que achavam certo.

Devido ao movimento, o então Presidente da Província do Rio Grande do Norte, Bacharel Bernardo Galvão, mandou instaurar um inquérito contra a promotora do Motim, Ana Floriano, mas a peça processual misteriosamente desapareceu dos arquivos do Departamento de Segurança Pública do Estado. Essa manifestação também contou com outras líderes como Maria Filgueira e Joaquina Maria de Góis, e os seus feitos ficaram registrados na memória dos mossoroenses e nas páginas dos quase quatro mil títulos de livros publicados sobres esse evento que marcou a vida de Mossoró.

Em outra ocasião, quando houve a tentativa de empastelamento da sede do jornal O Mossoroense, que era do seu filho, Ana Floriano chegou a empunhar um espeto de ferro para defender a redação do jornal da invasão dos mandantes de um político que queria impedir a publicação do jornal. Nascia aí o mito da valentia das mulheres de Mossoró.

Antônia Rodrigues Braga (Ana Floriano), faleceu em Mossoró entre os anos de 1876 a 1881, tendo sido sepultada no mesmo local em que hoje tem sua família jazido perpétuo, no Cemitério São Sebastião, no centro de Mossoró.

Por sua bravura e determinação, o seu nome foi escolhido pelo Poder Público Municipal para nominar a Comenda que homenageia as mulheres que se destacaram de alguma forma e contribuíram para o desenvolvimento de Mossoró.

pesquisador e historiador  – Geraldo Maia do Nascimento – [email protected]

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