Tomislav R. Femenick: Congresso ruim? Por seria sem ele

A mais marcante característica das sociedades democráticas no mundo atual é a existência dos partidos políticos, muito embora esta seja uma das muitas heranças da Grécia clássica, passada pela Roma Antiga e aperfeiçoada pela Revolução Francesa e pela prática inglesa do século XVIII. Partindo do FATO “associação de pessoas com os mesmos ideais e objetivos”, chegou-se ao CONCEITO de “organizações sociais que se fundamentam numa concepção política e que visam alcançar o poder”. Foi nessa base ideal que os partidos políticos se organizaram no ocidente e em outros países, principalmente depois da segunda guerra mundial.

Na história mais recente do Brasil já tivemos agremiações políticas assim estruturadas: partidos do pós-guerra, durante a ditadura militar (a Arena defendia os militares e o MDB queria a sua saída do poder) e, mesmo agora, ainda há sobreviventes; poucos, mas há. Atualmente existem 35 partidos políticos e 56 outros estão sendo organizados. Todavia o que os caracteriza é uma total falta de ideais. As legendas de mais destaque eleitoral só buscam o poder para dele tirar proveitos para seus dirigentes e apaniguados. As que têm participação média se compõem com as que estão no poder para dele tirar um naco, uma fatia que seja. Já as menores fazem figuração, buscam participar do fundo partidário (dinheiros dos impostos que nós, o povo, pagamos) e vender tempo na propaganda eleitoral gratuita na TV e nas rádios. Grandes, médios ou pequenos querem uma parte do caixa 2 e das propinas. Nelson Rodrigues – o grande cronista e dramaturgo do cotidiano nacional – já dizia que nós brasileiros somos capazes de desmoralizar tudo. Pois bem, conseguimos desmoralizar a democracia.

São os integrantes desses partidos que fazem as Leis do país; geralmente pessoas descompromissadas com os interesses do povo, da nação e das instituições; graças a Deus nem todas. O quadro é dantesco, pavoroso mesmo. O meu avó já dizia que o que sai do esgoto é sujeira, que da pocilga só sai excrementos e porcos. Nunca, nunca mesmo, saem perolas. Bem, é na mão desse Congresso que estamos – Câmara e Senado onde a maioria só pensa em si, não se importando a quem prejudicar. Mas há uma pergunta que não se cala: quem é o responsável pela baixa qualidade dos elitos para representar o povo? Ora, não há como evitar a resposta: somos nós o povo, que os elegemos. Todos os descarados, sem vergonhas, velhacos e ladrões da honra alheia que estão lá, E lá estão porque o povo brasileiro votou neles.

Mas poderia ser pior. Pior como? – alguém há de se perguntar. “Mais ruim” ainda seria se não existisse o Congresso Nacional, vez que todo poder absoluto vem acompanhado de desonestidade absoluta. Recentemente, alguns idiotas de carteirinha invadiram a Câmara e pediram o fechamento do parlamento e a volta dos militares ao poder. Nem eles, os militares, aceitaram a provocação. Isso é coisa de quem não pensa, não estuda ou é totalmente carente de inteligência. Não nos esquecemos de que foi o Congresso Nacional quem casou o mandato de Dilma (a doida varrida, como dizem a boca pequena alguns de seus colegas do PT), mesmo acrescentando uma meia-sola na Constituição; quem aprovou a PEC do teto dos gastos; quem cassou Eduardo Cunha, Zé Dirceu e seus colegas do mensalão, Vaccari Neto e companhia bela.

Cabem ao povo brasileiro duas atitudes que poderiam mudar os nossos hábitos como cidadãos. Primeiro, cobrar dos atuais deputados e senadores uma maior postura cívica, mais empenho na defesa dos interesses públicos e, por que não, mais trabalho e menos gastos das verbas oriundas dos impostos que são pagos com o suor de quem realmente trabalha duro para sustentar a família, pagar planos de saúde (já que a saúde pública é ineficiente), pagar escola para os filhos (já que o ensino público não atende a todos), para seguro (já que a segurança pública não existe) e pagar impostos. Segundo, deixar de ser abestado e não mais votar naqueles que somente enganaram ao povo com lábias afiadas, tapinhas nas costas e promessas que nunca cumprem, bem como os que se credenciam por seres artistas, esportistas, parentes de políticos já famosos, participantes de reality shows – a lista é grande de mais para ser citada.

Tomislav R. Femenick – Historiador, membro da diretoria do IHGRN.

Tribuna do Norte. Natal, 29 dez. 2016.