
Talibãs põem em risco a vida de 28 milhões de meninas e mulheres no Afeganistão, alerta ONG
O governo talibã ordenou que as janelas voltadas para espaços residenciais ocupados por mulheres afegãs sejam obstruídas, alegando que isso poderia levar a "obscenidades". Para a Ong Afghanistan Libre, as novas leis fecham um círculo vicioso de absurdos e ameaçam a vida de 28 milhões de meninas e mulheres no Afeganistão.
Por RFI
De acordo com um comunicado publicado no sábado (28), pelo porta-voz do governo talibã, no caso de construção de novos edifícios, será necessário que eles não possuam janelas pelas quais seja possível ver de perto “o pátio, a cozinha, o poço e outros lugares normalmente usados por mulheres”.
“O fato de ver mulheres trabalhando em cozinhas, nos pátios ou coletando água de poços pode gerar atos obscenos”, detalhou o documento divulgado por Zabihullah Mujahid no X, escrito em árabe, dari e pashto.
“Elas não têm mais direito a nada desde 15 de agosto de 2021, e a cada seis meses o regime talibã, que é um regime terrorista, impõe ainda mais restrições para mostrar que são os donos do mundo lá no Afeganistão”, denuncia Chékéba Hachemi, fundadora da ONG Afghanistan Libre. “Essas 28 milhões de pessoas estão sendo enterradas vivas, pois nem sequer podem ter uma janela para o mundo exterior”, alertou, em entrevista à RFI.
O regime talibã também anunciou a intenção de fechar todas as organizações não governamentais, nacionais ou estrangeiras, que empreguem mulheres no Afeganistão. O descumprimento dessa nova ordem resultaria na revogação da licença de operação dessas ONGs.
“Estou profundamente alarmado com o anúncio recente feito pelas autoridades de fato do Afeganistão, segundo o qual as licenças das ONGs serão revogadas se continuarem a empregar mulheres afegãs. Isso está absolutamente indo na direção errada”, declarou o alto-comissário da ONU para os direitos humanos, Volker Türk, em um comunicado.
Desde o retorno dos talibãs a Cabul, em agosto de 2021, as mulheres foram progressivamente excluídas do espaço público, levando a ONU a denunciar um “apartheid de gênero”.
Mulheres afegãs sem liberdade
Atualmente, as mulheres afegãs não podem mais estudar além do ensino fundamental, frequentar parques, academias, salões de beleza e quase não podem sair de casa sem um acompanhante. Uma recente lei também lhes proíbe de cantar ou recitar poesia, de acordo com uma aplicação extremamente rigorosa da lei islâmica. Além disso, elas são incentivadas a “esconder” suas vozes e seus corpos fora de casa.
“Essas últimas interdições fecham um círculo de ridículo e absurdo. Eles deveriam simplesmente declarar que estão assassinando lentamente 28 milhões de pessoas – meninas e mulheres – neste país”, lamenta Chékéba Hachemi.
“Todo mundo vive em uma constante sensação de terror porque tudo é feito abertamente: as lapidações, os açoites… E quanto ao trabalho das mulheres nas ONGs, 80%, 70% das famílias no Afeganistão, antes da chegada dos talibãs, eram sustentadas pelas mulheres. Agora, se isso está proibido, significa assassiná-las. Tudo isso acontece no silêncio de todos os governos europeus e também do mundo muçulmano. Então, nem sei o que responder a todas essas mulheres que me perguntam ‘por que esse silêncio? O que dizem as democracias ocidentais?'”, desabafa a fundadora da ONG Afghanistan Libre.