Sonia Villalobos – Lucro com impacto social, esse é o futuro do Capitalismo

Em um cenário em que o sistema socialista está cada vez mais desacreditado e que os eleitores de vários países começam a rechaçar a solução paternalista da chamada “esquerda populista”, o sistema capitalista, já chamado de “o menos pior de todos”, também tem o dever de se questionar e se renovar.

O caminho desta renovação se chama Investimento com Impacto Social e Ambiental (IISA). O modelo de negócio do IISA está a meio caminho entre a filantropia, normalmente feita a fundo perdido, e o investimento que visa somente o retorno monetário. O IISA vai além de ser simplesmente um investimento socialmente responsável, já que exige que se atinjam metas pré-determinadas, objetivas e/ou subjetivas, de impacto social, mas não deixa de exigir igualmente resultados financeiros positivos para seus projetos.

A maior parte das iniciativas para lidar com necessidades prementes como a fome, falta de saneamento básico, saúde e educação, além de questões ambientais como o desperdício de alimentos e descarte errado do lixo, continuarão a depender dos Governos e ONGs. Mas já é evidente que a demanda por recursos é muito maior do que esses programas podem suportar. O IISA é parte da solução.

Muitos investidores individuais e famílias que administram grandes fortunas tem uma tradição de separar parte de seus recursos para investimentos com impacto social, além da parcela destinada à filantropia. Mas estas iniciativas eram feitas de maneira informal e pulverizada. Em 2001, o banco Goldman Sachs criou o primeiro fundo para investir em projetos de impacto social e, com isso, institucionalizou e parametrizou o IISA. Desde então, a companhia investiu mais de US$ 5 bilhões em comunidades americanas carentes. O Grupo de Investimento Urbano realiza parcerias com líderes e organizações sem fins lucrativos locais, com foco no desenvolvimento das comunidades, iniciativas de impacto social e financiamento para pequenas empresas.

No Brasil, a ideia é ainda recente, mas a perspectiva é positiva. Uma projeção realizada pela Força Tarefa Brasileira de Finanças Sociais , em parceria com a Deloitte, constatou que os investimentos em negócios com impacto social no País devem quadruplicar nos próximos cinco anos, passando de R$ 13 bilhões em 2014 para R$ 50 bilhões anuais em 2020. O levantamento constatou que grande expansão desse investimento será no microcrédito e de fundos de investimentos que investem em empresas com produtos e serviços que de alguma forma impactam positivamente a sociedade. No mundo todo, a expectativa é de que o valor chegue a US$ 1 trilhão, de acordo com o banco JP Morgan.

Com o intuito de alavancar os resultados dos investimentos com impacto social, há sete anos, foi criada a Vox Capital, a primeira gestora de fundos de IISA no Brasil. O fundo da Vox investe em empresas com alto potencial de crescimento e que estão causando impacto social positivo por meio de soluções para problemas reais de saúde, educação e serviços financeiros. Outro exemplo é a Artemisia (www.artemisia.org.br), instituição sem fins lucrativos, pioneira na disseminação e no fomento de negócios de impacto social no Brasil. Desde 2004, sua missão é inspirar e orientar pessoas e empreendedores a criar uma nova geração de negócios, onde o impacto social seja tão importante quanto o lucro.

Para as empresas, existe uma outra razão para entender e ampliar seus investimentos com impacto social, a atração de talentos. Os Millennials, a geração nascida a partir do início dos anos 80, demonstram uma grande preocupação com o social e o ambiental e, mais do que isso, buscam consumir produtos e trabalhar em empresas que demonstrem estas mesmas preocupações. As empresas que ignorarem o IISA certamente serão vistas como ultrapassadas e egoístas por esta geração, que tende a se tornar uma parcela cada vez maior da força de trabalho nas próximas décadas.

*Sonia Villalobos, CFA, é presidente da CFA Society Brazil 

Sobre o CFA Society Brazil

O CFA Program é o maior programa global para certificação de analistas de investimentos. O CFA Institute é a maior associação global de profissionais de investimentos, com mais de 135 mil membros espalhados por 150 países e territórios, e confere a certificação CFA – Chartered Financial Analyst. A CFA Society Brazil é parte de uma rede de 148 CFA Societies localizadas em 70 países. No Brasil são mais de 750 membros, em nove estados (RS, SC, PR, SP, RJ, MG, GO, DF, PE e PB), que atuam em diferentes segmentos do mercado financeiro, tais como bancos de investimento, private banking, corretoras, gestoras de recursos, boutiques de M&A, firmas de private equity, familly offices, agências de classificação de risco, provedores de informações financeiras e outras empresas do setor.