Sociedade Libertadora Mossoroense

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Sociedade Libertadora Mossoroense

Em 6 de janeiro de 1883 dava-se a fundação da Sociedade Libertadora Mossoroense, entidade pioneira da campanha que declarou Mossoró livre da mancha negra da escravidão em 30 de setembro de 1883. Sua diretoria era formada pelos abolicionistas: Joaquim Bezerra da Costa Mendes, Presidente; Romualdo Lopes Galvão, Vice-Presidente; Dr. Paulo Leitão Loureiro de Albuquerque, Orador; Frederico Antônio de Carvalho, 1º Secretário; Astério de Souza Pinto, 2º Secretário; Manoel Benício Guilherme de Melo, Tesoureiro; Manoel Cyrilo dos Santos, Procurador. Tinha ainda como Diretores o Capitão Antônio Filgueira Secundes, Luiz Carlos da Costa, Miguel Faustino do Monte, Joaquim de Oliveira Torres, Aristóteles Alcebíades Wanderley, Antônio Fernandes Júnior e Alexandre Soares do Couto.

A Sociedade Libertadora tinha um Código, com um único artigo e sem parágrafos, onde estava determinado que “todos os meios são lícitos a fim de que Mossoró liberte os seus escravos”.

A ideia surgiu por ocasião de uma homenagem prestada na Loja Maçônica 24 de junho ao casal Romualdo Lopes Galvão, líder da política e do comércio, em dezembro de 1882. Presente à homenagem se encontrava o Venerável da Loja Maçônica 24 de junho, Frederico Antônio de Carvalho, a quem coube a ideia da fundação de uma sociedade cuja finalidade fosse a liberação dos cativos.

O dia 30 de setembro de 1883 foi a data designada para a liberação total dos escravos. Não havia nenhum motivo especial para a escolha dessa data. Era o tempo que eles achavam necessário para atingirem o objeto; e esse objetivo foi alcançado. No dia 29 de setembro, o Presidente da Libertadora Mossoroense dirige a Câmara Municipal de Mossoró o seguinte Ofício:

“Ilustríssimos Senhores Presidente e Vereadores da Câmara Municipal.

A Sociedade Libertadora Mossoroense, por seu Presidente abaixo assinado, tem a honra de participar a V. Sªs que, amanhã, 30 de setembro, pela volta do meio-dia, terá lugar a proclamação solene de Liberdade em Mossoró. E, pois, cumpre-me o grato dever de convidar V. Sªs e seus respectivos colegas, representantes do Município, para que se dignem de tomar parte nessa festa patriótica que marcará o dia mais augusto da cidade e do município de Mossoró.

A emancipação mossoroense é obra exclusiva dos filhos do povo; a esmola oficial não entrou cá.

Sua Majestade, o Imperador, quando lhe comunicamos a próxima libertação do nosso território, foi servido de enviar a dizer-nos pelo Senhor Lafayette, Presidente do Conselho de Ministros, que nos agradecia. A libertação está feita e ninguém apagará da história a notícia do nosso nome. Os mossoroenses são dignos de ser olhados com admiração e respeito hoje e daqui a muito tempo, por cima dos séculos.

A Sociedade Libertadora mossoroense se congratula com V.Sªs por tão fautoso acontecimento.

Deus guarde a V.Sªs Ilustríssimo Senhor Romualdo Lopes Galvão, digno Presidente da Câmara Municipal desta cidade de Mossoró.

O Presidente Joaquim Bezerra da Costa Mendes.

Sala das Sessões da Sociedade Libertadora Mossoroense, 29 de setembro de mil oitocentos e oitenta e três”.

Foi um dia festivo aquele 30 de setembro. A cidade amanheceu com as ruas todas engalanadas de folhas de carnaubeiras e bandeiras de papel coloridas. A alegria contagiava todos os lares. Ao meio-dia, a Sociedade Libertadora Mossoroense se reunia no 1º andar do prédio da Cadeia Pública, onde funcionava a Câmara Municipal. O Presidente da Sociedade Joaquim Bezerra da Costa Mendes, abre a solene e memorável sessão, lendo em seguida, diversas cartas de alforria dos últimos escravos de Mossoró, e depois de emocionado discurso declara “livre o município de Mossoró da mancha negra da escravidão”.

Além dos abolicionistas, os salões da Câmara Municipal estavam lotados com familiares e grande massa da população.

Depois da sessão, a festa tomou as ruas da cidade.  O Dr. Almino Afonso pronunciou inúmeros discursos, empolgando os auditórios que o aplaudiam delirantemente. E foi também o Dr. Almino Afonso que criou o “Clube dos Spartacos” composto, na sua maioria, por ex-escravos, tendo sido eleito presidente o liberto Rafael Mossoroense da Glória. A função desse clube era dar abrigo e amparo aos ex-escravos, que aqui chegavam por mar ou por terra. Era a tropa de choque dos abolicionistas. Como território livre, Mossoró passou a ser procurada por todos os escravos que conseguiam fugir. Sabiam que aqui chegando, encontravam abrigo. O Clube dos Spartacus sempre conseguia evitar que os escravos voltassem com os donos. Alguns eram comprados; outros eram mandados para Fortaleza e nunca mais apareciam. Tudo isso aconteceu cinco anos antes que a Princesa Isabel assinasse a famosa “Lei Áurea”, que acabava com a escravidão em todo território nacional.

O dia 30 de setembro passou a ser a grande data cívica da cidade. A Lei nº 30, de 13 de setembro de 1913, declara feriado o dia 30 de setembro que até os dias atuais é comemorado com muito entusiasmo pela cidade de Mossoró.

pesquisador e historiador  – Geraldo Maia do Nascimento – [email protected]

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