Sem liberdade, preferimos a morte”: universitários reforçam protestos contra a Covid Zero na China

A revolta da população chinesa contra os lockdowns impostos pelo governo ganha força e se espalha pelas ruas do país. Os protestos recebem a adesão de universitários que contestam a política Covid-Zero, aplicada há quase três anos na China.

Texto por RFI

Com informações de Stéphane Lagarde, correspondente da RFI em Pequim, e agências

“Viva o povo, que os mortos descansem em paz!”, cantam os estudantes do Instituto de Comunicação e Mídia de Nanjing, no leste da China. Em Pequim, os estudantes da prestigiosa universidade Tsinghua penduraram máscaras azuis manchadas com tinta vermelha nas grades das escadas da Academia de Cinema.

Na Universidade Agrícola de Harbin, no nordeste, mensagens escritas em vermelho são coladas nos vidros dos dormitórios. “Sem liberdade, preferimos a morte – homenagem silenciosa às vítimas de Urumqi”, diz um dos cartazes. Os jovens se referem aos dez mortos no incêndio em um prédio na capital da província de Xinjiang, na última quinta-feira (24). Segundo moradores, as medidas anticovid dificultaram o acesso às saidas de emergência do local.

Em Wuhan, no sudeste, estudantes da Universidade de Tecnologia acenderam velas formando os números 24 e 11, marcando o dia e o mês da tragédia em Urumqi. Nas redes sociais, multiplicam-se vídeos de atos realizados por universitários, mas as gravações são rapidamente censuradas e apagadas.

Contradições sobre o lockdown em Urumqi

Segundo as investigações, o incêndio em Urumqi teria começado após o curto-circuito na tomada elétrica de um apartamento no 15° andar. As agências estatais apontam que o prédio estava em uma zona de baixo risco da Covid-19 e, portanto, não estaria completamente isolado. No entanto, moradores afirmaram às mídias internacionais que só podiam deixar os apartamentos em curtos períodos durante o dia e que as saídas eram controladas pelas autoridades.

Nas redes sociais, vídeos mostraram pessoas que trabalham na segurança das residências removendo barreiras em torno do prédio para que caminhões de bombeiros pudessem passar e lutar contra as chamas. Imagens como essas vêm circulando e acordando uma juventude exausta de confinamentos nos campus universitários.

Diante da multiplicação de protestos, algumas universidades chegaram antecipar as férias do Ano Novo Lunar, que têm início em janeiro de 2023. A decisão foi tomada com o provável objetivo de evitar que o movimento ganhe força.

Homenagens silenciosas 

Por enquanto, as homenagens nas universidades são majoritariamente silenciosas devido ao medo das consequências. Neste domingo (27), centenas de pessoas se manifestaram silenciosamente no centro de Xangai, agitando flores e folhas de papel brancas. O gesto se tornou um símbolo de protesto contra a censura. Jornalistas internacionais que presenciaram o ato afirmaram que não houve violência, mas a multidão foi rapidamente dispersada pela polícia.

Em um protesto de Changping, bairro de Pequim, no sábado, uma mulher grávida que deve dar à luz em breve disse à reportagem da RFI que, apesar da exigência de realizar três testes de Covid por dia, teme não poder deixar sua residência para ir ao hospital.

“Não temos nenhum caso de Covid no meu prédio, então, por que tenho que ficar trancada? Nossos direitos têm que ser respeitados. Esse confinamento é irracional”, declarou.

Em Huilongguan, outro bairro da capital chinesa, um homem diz não compreender as razões do lockdown imposto a um complexo residencial inteiro devido a um caso positivo.

“Estamos em uma região onde o risco é baixo, então, deveríamos poder entrar e sair normalmente de nossas casas. Nos disseram que tinha apenas uma pessoa positiva condomínio inteiro, mas não sabemos quem, em qual prédio, então, não tem nenhuma razão para que todos a área seja isolada”, afirmou.

Política Covid Zero

Apesar das várias vacinas disponíveis, e ao contrário do resto do mundo, a China continua a impor rígidos lockdowns logo que um único caso é detectado. Quem testa positivo é obrigado a realizar um drástico isolamento em centros de quarentena. Para acessar locais públicos, testes negativos diários são exigidos.

Primeiros a serem submetidos aos confinamentos, no início de 2020, os chineses não escondem mais o cansaço, após três anos de lockdowns contínuos. A política Covid Zero, eficaz no início da pandemia, vem mostrando há meses seus limites diante das subvariantes da ômicron, mais contagiosa.

Nas últimas semanas, o governo vêm divulgando recordes quase diários de novos casos. Neste domingo, 39.506 contaminações foram registradas em todo o país, um número baixo em relação à quantidade de infecções registrada em outros países. Até o momento, o governo chinês não reagiu aos protestos.

Deixe um comentário