REPÓRTER QUE SEMPRE FUI: “VI NASCER CAMPANHA DA FRATERNIDADE” (I)

Ney Lopes:

Postado às 05h31 | 17 Feb 2024

Estarei ausente até 29 deste mês, em viagem particular. Aprendi que é fundamental assiduidade com o leitor. Por tal razão, publicarei no período de ausência textos com reminiscências dos fatos que vivi como repórter, jornalista, advogado, político.

A propósito da quarta-feira de cinzas, celebrada na última quarta-feira, vem a memória o nascimento da Campanha da Fraternidade, realizada em todo o país, no período de 40 dias que antecede a Páscoa. Como Gonçalves Dias, no poema Juca Pirama, repito: “meninos, eu vi!”. Não apenas acompanhei o surgimento da Campanha, mas como integrante do grupo ligado a D. Eugenio Sales no Movimento de Natal, dei a minha participação ativa.

O movimento apostólico nasceu por iniciativa de Dom Eugênio de Araújo Sales, em Nísia Floresta, Arquidiocese de Natal, RN, como expressão da caridade e da solidariedade, em favor da dignidade da pessoa humana. À época, integrava o departamento de politização do Serviço de Assistência Rural (SAR) fundado por D. Eugenio para dar apoio aos projetos em execução. O trabalho social do SAR foi exaltado pelo presidente Juscelino Kubitschek, em visita ao estado.

O SAR era a âncora do movimento da Igreja católica em Natal, considerado anos depois a experiência pastoral de maior extensão e profundidade já realizada no Brasil. Lá se misturavam sacerdotes e leigos, mobilizados pela busca da justiça social. O SAR congregava o jornal A Ordem, a Emissora de Educação Rural (MEB), setores de conscientização e educação: migração; comunidades eclesiais de base (CEBs); paróquias confiadas a religiosas (as “irmãs Vigárias”, experiências implantadas em São Gonçalo do Amarante e Taipu); centros sociais e clubes; treinamento de líderes; ensino médio; politização; cooperativismo; sindicalismo rural; colonização; artesanato, saúde e outras áreas.

A Campanha da Fraternidade, que este ano completa 62 anos, foi inspirada no Concílio Ecumênico Vaticano II, no ano de 1962. Em 1964 era repórter do jornal “A Ordem”, quando a CNBB levou a campanha para todo o país e o jornal estampou em manchete de primeira página: “Campanha da Fraternidade realiza-se, este ano, em todo o Brasil”.

Tudo começara na cidade de Nísia Floresta, com visitas fraternas durante a Semana Santa, às comunidades pobres, doações de alimentos e utensílios domésticos. As Missionárias de Jesus Crucificado, que administravam a paróquia, mobilizavam as comunidades dos distritos durante a Quaresma para ações de solidariedade humana. No bucólico povoado de Timbó distrito de Nísia Floresta, surgiu o primeiro gesto concreto da Campanha da Fraternidade. A comunidade em peso percorreu as redondezas, arrecadando alimentos destinados a quem tinha fome.

Este ano, o tema da Campanha da Fraternidade aborda “Fraternidade e amizade social”, lapidado pelo lema “Vós sois todos irmãos e irmãs”. Assumida pela CNBB, a Campanha da Fraternidade tornou-se expressão de comunhão, conversão e partilha. Sem dúvida, um símbolo de fraternidade da Igreja, que nasceu no RN.

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