Rejeição por parte do eleitorado é desafio para Lula e Bolsonaro em uma campanha polarizada

Faltando um mês para o início da propaganda no rádio e na TV, direita e esquerda traçam estratégias e foco para a disputa eleitoral. Analistas ouvidos pela RFI acreditam que a polarização entre Bolsonaro e Lula está consolidada, mas a permanência de outros candidatos no páreo é decisiva para a disputa ir para o segundo turno.

Por: RFI

Raquel Miura, correspondente da RFI em Brasília

Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva, ambos oficializados candidatos em convenção de seus partidos, têm a mesma aspiração, mas correm agora com metas imediatas diferentes.

O presidente busca garantir sua vaga no segundo turno convertendo em votos a redução no preço de serviços e os benefícios criados e ampliados com a “emenda das bondades”. O petista, por sua vez, tentará convencer eleitores e políticos de que a esquerda precisa centrar num só nome para liquidar o pleito num turno único.

A campanha eleitoral pode ser uma caixinha de surpresas, lembram os analistas, mas eles também ponderam que hoje o quadro está bem polarizado entre os dois nomes, com pouco espaço para outros pretendentes.

“O primeiro turno se desenha com a polarização, com Lula hoje na casa dos 42% das intenções de votos e Bolsonaro atingindo 37%, o que deixa pouca margem para mudanças. De toda maneira, a presença de outros candidatos, como é o caso de Ciro Gomes e possivelmente Simone Tebet, é importante para que a gente tenha um segundo turno. Hoje cerca de 25% do eleitorado resiste a apoiar Lula ou Bolsonaro ”, afirmou à RFI Leonardo Barreto, doutor em ciência política pela Universidade de Brasília.

Ele diz que Bolsonaro conseguiu criar um ambiente menos tenso na economia, com a redução no preço dos combustíveis e energia elétrica, e com a distribuição de benefícios previstos na “emenda das bondades”, o que pode lhe garantir “potência eleitoral” a três semanas do início oficial da campanha.

Lula, por sua vez, acertou na escolha de Geraldo Alckmin (PSB) como vice, o que deve ajudar a quebrar resistência do mercado e do eleitorado paulista. Além disso, a chapa entre dois antigos rivais complicou a situação dos tucano e a centro-direita em São Paulo o que, em tese, pode ajudar Fernando Haddad (PT/SP) na briga pelo Palácio dos Bandeirantes.

“Como para Lula seria hoje interessante vencer no primeiro turno, porque ele está mais perto disso, acredito que sua campanha irá se dedicar a conversar com Carlos Lupi, do PDT, para tentar convencer Ciro Gomes a sair da disputa. Aí sim ele tem chances de levar no primeiro turno”.

O PDT já realizou convenção confirmando Ciro Gomes como candidato, embora ainda não tenha decidido o nome do vice na chapa. O MDB marcou a convenção para a próxima quarta-feira (27), em meio à pressão de alguns integrantes do partido para que Simone Tebet retire o nome e a sigla apoie Lula desde já.

A balança do eleitor

Na convenção que homologou sua candidatura nesse domingo no Rio de Janeiro, Bolsonaro por várias vezes mostrou preocupação com o voto do jovem na esquerda, um eleitor que pela idade não viveu o governo Lula ou pouca lembrança tem dessa gestão, mas que ouviu falar da Lava Jato, da prisão e soltura do petista.

Para os mais velhos, a escolha virá da balança, disse à RFI o analista Alexandre Bandeira, da Associação Brasileira de Consultores políticos: “As pessoas estão fazendo quase um referendo duplo, comparando o que foi o governo do ex-presidente Lula e o que está sendo o governo do presidente Bolsonaro. E colocam na balança, em qual governo tiveram mais benefícios e vantagens”, avalia Bandeira.

Ele pondera que, na política, tudo pode acontecer, mas também vê poucas chances de mudança nesse tabuleiro polarizado por Bolsonaro e Lula. “Você vê aí Simone Tebet com baixos índices de votação. Você vê Ciro Gomes, que já foi candidato à Presidência da República outras vezes, com dificuldade de ultrapassar dois dígitos nas pesquisas”.

Para Bandeira, uma das pesquisas de intenção de voto mais aguardada é a que virá após o depósito dos valores atualizados do Auxílio Brasil, que será feito agora em agosto. “É aí que vamos ver se a ajuda em plena ano eleitoral surtiu efeito ou se essas pessoas vão usar o dinheiro mas sem alterar o voto, porque já têm opinião formada sobre o atual governo”. Os candidatos podem pedir votos a partir de 16 de agosto.

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