Vamos falar um pouco sobre prisão. Mas, não da prisão, própria dita, atrás das grades, não aquela dos grilhões, das correntes.
Vamos falar da prisão emocional, sob o ponto de vista de “abandonar um barco”, ou “não deixá-lo afundar”.
Aquela prisão intrinsecamente ligada ao compromisso, a obrigação, às responsabilidades.
Muitas vezes o compromisso, na forma de prisão, pode estar ligada não a uma causa externa, mas sim, a um desejo forte interno de manter uma determinada situação.
A prisão ligada a obrigação, muitas vezes está ligada a tentativa de manter um status quo, que por fatores intimamente ligados à sentimentos de pura proteção, levam determinadas pessoas a se excluírem, e ao fazer isso, se aprisionam.
A prisão referente às responsabilidades, muitas vezes está, cotidianamente, ligada aos afazeres de “coisas”, de ordem prática, no sentido de ter que fazer, pois o não fazer, acabará sufocando a pessoa compromissada, muito embora o fazer “tantas coisas”, em excesso, acabará aprisionando-a, muito mais.
A prisão no sentido de, para não “abandonar o barco”, é tão complexo que abrange as prisões referentes às responsabilidades, compromisso e obrigações.
Como traduzir a prisão no que concerne à “Não deixar o barco afundar”? Uma vez não “abandonando o barco” traz a responsabilidade de manter ele navegando. Mantê-lo na rota, seria manter o compromisso de capitaneá-lo, obrigando-se ao aprisionamento.
Podemos abordar sobre alguns prismas.
Ficar aprisionado para tentar ajudar outrem, seria um prisma.
Contudo, como entender-se prisão, a tentativa positiva de auxílio, vista sob a ótica da ajuda real. Normalmente, ajudar de modo positivo, deveria trazer satisfação benigna. Sob outro prisma, “Não deixar o barco afundar”, a prisão poderia ser ocasionada pelo envolvimento de um terceiro, inocente.
“Não deixar o barco afundar”, pode resultar da necessidade de tentar se reconstruir uma relação desgastada por traumas, decepções, em movimentos de reconstruções familiares, gerando aprisionamento.
“Não deixar o barco afundar” , pode ser a tentativa desesperada de manter-se conforme seus próprios princípios éticos e morais, o que muitas vezes leva ao aprisionamento.
Este devaneio, foi construído a partir de sensações aferidas dentro de um contexto bem complexo, onde estão envolvidos: compromisso, obrigações, responsabilidades, pessoas, sentimentos .
Nessa minha imersão, ou podemos dizer, ótica, vi tristeza, sufocamento, sobrecarga, a procura de uma saída da PRISÃO.
* Clovis da Silva Alves é bacharel em direito, técnico judiciário do TJRN e chefe de secretaria da 3ª Vara Criminal de Mossoro-RN. E-mail: [email protected].