Presidente do Banco do Brasil anuncia projetos com bancos europeus no valor de € 750 milhões
O Banco do Brasil aposta mira em projetos com bancos europeus de € 750 milhões em sustentabilidade e vê "uma África e uma Ásia inteiras" de oportunidades para exportação de biocombustíveis, como relatou sua presidente, Tarciana Medeiros, à RFI.
Vivian Oswald, correspondente da RFI no Rio de Janeiro
Presidente do Banco do Brasil desde 2023, Tarciana Medeiros, afirma que a instituição trabalha com sustentabilidade há pelo menos 20 anos, é uma das maiores do mundo no segmento e pretende expandir cada vez mais sua atuação. O banco acaba de firmar parceiras com instituições europeias para projetos de sustentabilidade que podem chegar a € 750 milhões.
No prédio do Centro Cultural do Banco do Brasil no Rio, ela contou à RFI Brasil que o banco tem uma carteira total de crédito para pessoas físicas, jurídicas e grandes empresas de R$ 1,2 trilhão. Desse total, 30% são crédito sustentável. Do crédito voltado ao agro, 50% é sustentável. O BB também quer estimular as exportações da Petrobras de biocombustíveis, setor para o qual Tarciana enxerga uma África e uma Ásia inteira inteira de oportunidades.
RFI: Chegamos num momento muito crítico da mudança do clima. E um dos problemas da COP e do G20 foram financiamento. O BB está se lançando em parceira com bancos estrangeiros. Como funciona e qual é o papel de um banco com o BB em sustentabilidade?
RFI: Eu me lembro que a matéria que eu fui fazer na Amazônia era sobre inclusão financeira. E o Banco do Brasil era o único que chegava em certas cidades. Hoje, com o Pix, acho que a gente não tem mais esse problema de cidades que não estão no sistema financeiro?
Temos. Até porque nós temos um outro problema que se chama conectividade. Esse problema também é social. Então, quando a gente fala do de cuidar do ambiental sem perder de vista em nenhum instante, no mesmo nível de importância, o social, questões como fome, pobreza. E aí, inclusão financeira, conectividade são questões muito sérias. É, nós temos regiões do país em que ainda é necessário levar numerário físico. Nós temos ainda cidades em que não há comunicação via antenas de celulares.
RFI: E numa cidade como essa, é difícil chegar a um financiamento do Banco do Brasil.
O financiamento só chega numa cidade se for por causa do Banco do Brasil.
RFI: Vocês tem um mapa de onde são necessários esses financiamentos para sustentabilidade?
Nós não só temos esse mapa e continuamos trabalhando com essa matriz, mas nós passamos a fazer mais. Nós passamos a fomentar que boa parte do crédito concedido pelo banco já ocorra de forma sustentável. A gente tem trabalhado bastante para que a gente capacite os produtores para que a exigência para para tomada de crédito em relação às questões legais, elas sejam cada vez mais rígidas. Então, o banco não só adota a legislação federal em relação à concessão de crédito, como também observa a legislação estadual e padrões internacionais. Por que isso? A gente quer que o nosso produto também chegue de qualidade para o exterior. E o banco tem esse papel.
RFI: Qualidade em que sentido?
Em pé de igualdade com os produtos que os países demandam em exportação e importação. Então a gente tem trabalhado muito forte, por exemplo, num programa chamado primeira exportação. É um programa que não é voltado para as megaempresas, porque nessas nós já temos toda uma atuação no mercado de capitais e campo Internacional. Mas é voltado para o pequeno produtor, que produz é de forma sustentável, com manejo adequado da terra, com energia renovável, e aí falando de energia renovável, boa parte dos créditos que nós estamos fazendo na área da Amazônia legal, é voltado para financiamento de energia solar. A gente tem 93% da matriz energética do país. Já renovável, já sustentável. Mas a gente quer que esse produtor já produza com energia 100% limpa.
RFI: Tem um problema de inadimplência entre os produtores rurais. Como é que vocês resolvem a coisa da inadimplência de produtores rurais de maneira sustentável? Quer dizer, se o produtor que já precisa de um financiamento, não tem dinheiro. Se ele está inadimplente, não tem acesso a recursos, ele pode, tentar queimadas para poder abrir lá na terra dele. Quer dizer, o fato da saúde financeira da família, vamos dizer, não está em dia, pode prejudicar o ambiente. De certa forma, não é? Como é que vocês lidam com esses produtores?
Mais uma vez vem o nosso foco no social. A gente desenvolveu uma série de mecanismos de repactuação, de recuperação da dignidade financeira desses produtores daqui. Se o produtor não conseguir apoio, se ele não tiver o financiamento disponível, ele vai lançar mão, de práticas não sustentáveis? E aí o nosso maior foco é trazer esse produtor de forma tecnicamente capacitado para que ele desenvolva a cultura, desenvolva a produção dele, embarque mais tecnologia, porque hoje tecnologia de pequenas máquinas é realidade, mas que de um outro lado ele tenha condições de honrar com as despesas financeiras. O Brasil é um país riquíssimo, com mais de 200 culturas. E a gente tem investido nas culturas de todos os tamanhos, de todos os níveis e em todos os locais do país.
RFI: Como é que vai ser essa parceria com esses bancos estrangeiros?
São 3 grandes parcerias. A gente fechou agora um acordo com o banco da Alemanha e com a KfW (Kreditanstalt für Wiederaufbau), que é um banco de desenvolvimento alemão, e nós vamos firmar um memorando para financiar iniciativas de bioeconomia na Amazônia. E aqui muito voltado para os projetos que nós já aprendemos a fazer, nos projetos que nós já aprendemos a como capacitar o produtor, o pequeno produtor.
RFI: Quer dizer, são projetos que vocês já fizeram, que vocês tenham expertise para fazer.
Nós começamos a fazer, já entendemos como faz e aí nós vamos expandir porque vimos uma necessidade muito grande do povo.
RFI: Quanto tem para isso, ou ainda não tem o valor?
Para esse acordo, € 50 milhões. Mas já foram investidos na Amazônia legal, mais de R$ 1,4 bilhão. Esse número cresceu, só esse ano 39%. Isso significa que nós temos aí mais de 40.000 operações voltadas para esses projetos. Então, são pelo 160.000 pessoas já beneficiadas. Cinquenta milhões de euros é a parceria que eles estão trazendo para operacionalizar via Banco do Brasil. E aí eu acho que vale ressaltar uma coisa: a importância de termos no país uma instituição com governança global reconhecida para conseguir receber e distribuir esses recursos. O outro é de € 250 milhões com o CDP (Cassa Depositi e Prestiti), que é o banco de fomento da Itália, e a SACE, agência de garantia italiana. Aqui, esses primeiros € 250 milhões serão voltados para investimento em projetos de recuperação do Rio Grande do Sul, muito focado ali na recuperação de micro e pequenos empreendedores, micro e pequenas empresas. E também alguns projetos ali no agro para pequenos agricultores, pequeníssimo agricultores. A partir da nossa performance de distribuição desde € 250 milhões, nós temos com eles já aberta a possibilidade de mais € 250 milhões. Então, são € 500 milhões, até porque eu já estou contando que a gente vai ter uma boa performance.
RFI: Se a gente considerar o universo necessário de investimentos em sustentabilidade, o Banco do Brasil hoje em dia é dos maiores aqui do Brasil?
É um dos maiores do mundo. Quando a gente fala de sustentabilidade, o Banco do Brasil é reconhecido como o banco mais sustentável do mundo. Pela quinta vez consecutiva.
RFI: E tem mais uma terceira parceria…
Temos um acordo técnico para fortalecer a cadeia de biocombustíveis que será firmado entre o Banco do Brasil e a Petrobras biocombustíveis, a PBio. Essa parceria é para promover práticas sustentáveis e explorar oportunidades do setor de biocombustíveis. Então, a gente tem, o Brasil já é referência também no mundo na produção de biocombustíveis, e a gente aqui no país também quer expandir a utilização. E aí, quem sabe também trabalhar junto com a Petrobras para exportação? Tem uma África inteira de oportunidades. Tem uma Ásia inteira inteira de oportunidades.
RFI: Sustentabilidade não é mais uma coisa apenas de proteção, são negócios. Então, assim, o mercado financeiro está atrás disso. Bancos grandes, fundos de investimento, quer dizer, esse é o negócio do futuro.
Esse é o negócio do presente. Não há mais evolução econômica que não sei que não se preocupe com a sustentabilidade. E aí não é mais só por uma questão financeira, mas é por uma questão de sobrevivência do planeta mesmo. Então, auferir lucro não é pecado, desde que a gente observe como esse lucro tem acontecido.
RFI: Se a gente tem gente do mercado financeiro que queira fazer parcerias com o Banco do Brasil para viabilizar isso, como é que isso funciona?
Fazemos porque essa pauta não é concorrente, ela é uma pauta urgente do mundo. Então, qualquer instituição financeira que queira entrar conosco em parceria, em quaisquer projetos, a gente faz, a gente recebe os projetos através da nossa vice-presidência de negócios com o governo, que tem nela a unidade ESG. Esse não é um não, é um procedimento complexo, mas aí vai depender do negócio. As pautas e as os pilares da negociação depende de cada negócio. Mas é algo simples que a gente sabe fazer. A gente ajuda o parceiro se ele não tiver expertise. Mas toda parceria é muito bem-vinda.