POLÍTICA: “LULA, TARCÍSIO E BOLSONARO”

 

Ney Lopes

Ontem, 2, consumou-se ato político-administrativo do maior significado para a democracia brasileira.

Encontraram-se os  adversários políticos,  presidente Luiz Inácio da Silva e o governador de SP, Tarcísio de Freitas.

Assinaram  acordo de cooperação para a construção de um túnel entre as cidades paulistas de Santos e Guarujá, com investimento de R$ 6 bilhões.

Planejado há quase 100 anos, o túnel imerso sairá finalmente  do papel.

A obra visa melhorar o fluxo de pedestres, cargas e automóveis que transitam entre as duas cidades do litoral, com reflexos em pelo menos nove municípios da Baixada Santista.

É uma tentativa de resolver histórico gargalo de mobilidade, impactando a vida de dois milhões de pessoas.

Inicialmente, Lula se opunha a participação na obra do governo de SP.

Defendia PPP com o setor privado.

Mudou de ideia, considerando esse sonho vem de 1922, conforme registro de um jornal paulista.

O incrível são as críticas despropositadas de militantes da extrema direita contra o diálogo administrativo do governador Tarcísio de Freitas com o presidente Lula.

O governador chegou a ser vaiado por bolsonaristas, na reunião em Santos.

Aliados radicais de Bolsonaro alegam falta de lealdade de Tarcísio e desconhecem que se trata de projeto importante para o estado.

Na história são comuns os acordos e conversas entre adversários políticos, diante de situações exigidas pelo interesse coletivo.

Para não irmos muito longe, um exemplo é o próprio presidente Bolsonaro.

O general Augusto Heleno, seu amigo e auxiliar, chamou de “ladrões” os políticos que integravam o centrão.

Cantarolou a música clássica de Bezerra da Silva: “Se gritar pega centrão, não fica um meu irmão”.

Pois bem.

Na condição de presidente, Bolsonaro fez aliança com o “centrão” e começou indagando aos seus correligionários:

Pessoal critica: ‘ah tá conversando com o Centrão’, quer o quê? Que eu converse com o PSOL? Com o PCdoB? ”.

Foi mais adiante: “O cara quer tocar fogo na canoa, mas não tem um toco de bananeira do lado dele. Vai atravessar o rio cheio de piranha nadando, vai morrer e ser comido no meio do caminho”.

Em 1946, na campanha para governador de SP, juntaram-se os inimigos Getúlio Vargas e o secretário-geral do Partido Comunista do Brasil, Luís Carlos Prestes.

Na ditadura de Vargas, Prestes havia ficado preso por nove anos e vira sua esposa, Olga Benário, ser entregue, grávida, à Alemanha nazista.

A Frente Ampla foi uma tentativa de enfrentar a ditadura militar e de abertura democrática, que uniu Carlos Lacerda, Juscelino Kubitschek (JK) e João Goulart (Jango), em 1966.

No caso do presidente Lula e o governador Tarcísio de Freitas, não é união política, mas a soma de esforços, em benefício do interesse público.

Merece aplausos e apoio de quem tenha bom senso.

Verdadeira lição de democracia!

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