PÍLULAS PARA O SILÊNCIO (PARTE CCLCIV)

Clauder Arcanjo*

Seremos a semente, a raiz, a árvore e o fruto daqueles que nos sucederão. Assim como se deu com aqueles que nos antecederam. Assim foi, assim será.

 

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Um pássaro triste pousou no seu ombro, e o dia lhe continuou belo. Bem sabia que os dias independem do humor do passaredo, quando entregues ao reinado do belo e do sublime.

 

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Há um evangelho enterrado na areia dos séculos. Um dia, quem sabe, haverão de entender o silêncio dos ensinamentos sepultados.

 

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— Transpiração de burro é passível da pena da peia! — proclamava um bêbado pelas ruas de Licânia.

 

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A lombriga se instala quando a sujeira habitou tal corpo há tempo.

 

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Todos os dias Credilúcido lia a Bíblia. Com uma paciência de Jó, batizava-se pela manhã, crismava-se à tarde; e, alta noite, renovava, cansado, o seu crédulo e apocalíptico ateísmo.

 

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Tocado pela beleza de Mafalda, Adelmárcio dedicou-lhe uma trova louçã.

Na manhã seguinte, ele ouviu de Mafalda a resposta:

— Se o teu amor for ruim tanto quanto tuas rimas, vou-te amar é… uma ova!

 

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No riso dele havia mais filosofia do que em suas lágrimas.

E, quando a sua pena se molhava com a tinta da ironia, benzíamo-nos radiantes, pois bem sabíamos que dela o humano mais se revelaria.

 

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Nada o instigava a agir. Preso ao universo da dúvida, Rosivaldo pensava, sopesava, avaliava, ponderava… até ouvir dos seus conterrâneos:

— Preguiça é o seu mal!

 

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Tentou o Cristianismo, cansou-se de ofertar a outra face. Ao estudar o Alcorão, sentiu-se muito distante de Meca.

Semana passada, ao topar com a incredulidade crônica do Companheiro Acácio, ele clamou pelo fim do mundo.

 

*Clauder Arcanjo é escritor e editor, membro da Academia Norte-rio-grandense de Letras.

 

 

(“O sepultamento de Cristo, de Caravaggio)

 

Seremos a semente, a raiz, a árvore e o fruto daqueles que nos sucederão. Assim como se deu com aqueles que nos antecederam. Assim foi, assim será.

 

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Um pássaro triste pousou no seu ombro, e o dia lhe continuou belo. Bem sabia que os dias independem do humor do passaredo, quando entregues ao reinado do belo e do sublime.

 

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Há um evangelho enterrado na areia dos séculos. Um dia, quem sabe, haverão de entender o silêncio dos ensinamentos sepultados.

 

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— Transpiração de burro é passível da pena da peia! — proclamava um bêbado pelas ruas de Licânia.

 

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A lombriga se instala quando a sujeira habitou tal corpo há tempo.

 

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Todos os dias Credilúcido lia a Bíblia. Com uma paciência de Jó, batizava-se pela manhã, crismava-se à tarde; e, alta noite, renovava, cansado, o seu crédulo e apocalíptico ateísmo.

 

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Tocado pela beleza de Mafalda, Adelmárcio dedicou-lhe uma trova louçã.

Na manhã seguinte, ele ouviu de Mafalda a resposta:

— Se o teu amor for ruim tanto quanto tuas rimas, vou-te amar é… uma ova!

 

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No riso dele havia mais filosofia do que em suas lágrimas.

E, quando a sua pena se molhava com a tinta da ironia, benzíamo-nos radiantes, pois bem sabíamos que dela o humano mais se revelaria.

 

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Nada o instigava a agir. Preso ao universo da dúvida, Rosivaldo pensava, sopesava, avaliava, ponderava… até ouvir dos seus conterrâneos:

— Preguiça é o seu mal!

 

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Tentou o Cristianismo, cansou-se de ofertar a outra face. Ao estudar o Alcorão, sentiu-se muito distante de Meca.

Semana passada, ao topar com a incredulidade crônica do Companheiro Acácio, ele clamou pelo fim do mundo.

 

*Clauder Arcanjo é escritor e editor, membro da Academia Norte-rio-grandense de Letras.

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