PÍLULAS PARA O SILÊNCIO (PARTE CCCX)

(Quadro “As ilusões perdidas”, de Charles Gleyre)

 

 

 

 

Mas se somos bons jardineiros de nós mesmos, o que nos cumpre é matar as lagartas, extirpar os caramujinhos e brocas, afofar a terra e bem adubá-la. Em matéria de poda, só a dos galhos secos. E a árvore que cresça como lá lhe determina a vocação. Isso, concordo, é aperfeiçoar o estilo. O mais desnatura-o, troca o nariz natural por um nariz de carnaval.

(Monteiro Lobato, em A barca de Gleyre)

 

Lia de uma forma destrambelhada, sem siso nem justa atenção, que, ao tentar se tornar escritor, o seu estilo se apresentou atabalhoado; o seu enredo, sem nexo; as falas das personagens, aéreas… Enfim, tudo em completa e inextricável desordem.

 

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Quem não cuida do próprio estilo nunca deve censurar o mau termo literário na página alheia.

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Adjino Castelo apresentava-se tão pródigo em adjetivos nos seus discursos que era sempre saudado pelo orador da prosa mais enxuta.

Ao retornar para casa, Adjino caía em pranto devido ao fato dos seus confrades nunca estarem à altura da sua brilhante, audaz, singular, augusta, galante… retórica.

 

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Em época de louvores à verborragia, o melhor é escrever de cócoras.

 

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A qualidade do estilo de um escrevinhador pedante é inversamente proporcional à quantidade de vezes que ele recorre ao pai dos burros à cata de vocábulos já proscritos.

 

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Todo cânone é fruto da depuração cabal a cargo da crítica do senhor Tempo.

 

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O verdadeiro escritor volta ao já escrito com a igual fúria de um condenado ao procurar o sol na cela escura. Se não o encontra, isso é de somenos valia. Escrever é teimar, fanaticamente.

 

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Na aritmética clássica da literatura, menos é mais.

 

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Há muitos que rabiscam, poucos que escrevem, raros aqueles que lapidam.

A messe da palavra é enorme, contudo o diamante do verbo é revelado apenas aos que se sacrificam no gólgota do mais renhido sacrifício.

 

*Clauder Arcanjo é escritor e editor, membro da Academia Norte-rio-grandense de Letras.

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