Pastoral da Terra alerta para aumento de conflitos contra povos do campo na Amazônia

O maior número de conflitos e violência contra os trabalhadores do campo, em 2019, se concentra na Amazônia Legal. Os recentes dados do relatório anual da Comissão Pastoral da Terra (CPT) também revelam crescimento de casos em todo país: 14% mais assassinatos, 7% a mais de tentativas de homicídio e 22% a mais de ameaças de morte em relação ao ano anterior. Além disso, também foi registrado o maior número de assassinatos de lideranças indígenas dos últimos 11 anos.

Andressa Collet – Cidade do Vaticano

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A Amazônia Legal, que compreende nove estados do Brasil, é a região que concentra o maior número de conflitos e violência contra os povos do campo no país. Os dados fazem parte do último relatório sobre o tema da Comissão Pastoral da Terra (CPT), de 2019, divulgado na sexta-feira, 17 de abril, Dia Mundial de Luta Camponesa e data que lembrou os 24 anos do assassinato de 21 trabalhadores sem-terra, em Eldorado dos Carajás, no Pará.

Dom José Ionilton, vice-presidente da Comissão e bispo de Itacoatiara/AM, comenta os dados recentes divulgados no relatório produzido pelo Centro de Documentação “Dom Tomás Balduino” – e publicados anualmente pela CPT desde 1985, com o título: “Conflitos no Campo Brasil”:

“Neste caderno são apresentados dados bem concretos sobre a nossa Amazônia, por exemplo: 84% dos assassinatos que aconteceram no ano passado, 27 de 32 se deu aqui na Amazônia; 73% das tentativas de assassinato, ou seja, 22 das 30 tentativas aconteceu na Amazônia; 79% dos ameaçados de morte, isto é, 158 de 201 pessoas ameaçadas foram aqui na Amazônia; e 84% das famílias que sofreram alguma invasão de terra ou casa se deu aqui na Amazônia.”

Relatório já está disponível online

relatório anual é um serviço pastoral que está na sua 34ª edição e pode ser acessado pela internet através do site e da página no Facebook da CPT. O Centro de Documentação cumpre as normas e procedimentos estabelecidos cientificamente para a coleta, o tratamento e a organização de documentos e dados.

Devido à pandemia do Covid-19, a publicação teve lançamento online pelo site e redes sociais da Comissão. No mesmo horário foi realizada uma live com a participação do coordenador nacional, Paulo César Moreira; da professora da Universidade Federal de Goiás (UFG), Maria Cristina Vidotte; e eo jornalista e colaborador da CPT, Antônio Canuto.

Conflitos e violência no campo crescem em 2019

Os dados revelaram que, além da situação na Amazônia Legal ter se agravado, os conflitos no campo e as violências sofridas pelos trabalhadores em 2019 – que incluem indígenas, quilombolas e demais povos tradicionais – sofreram aumento em todo o país em relação ao ano anterior: 14% mais assassinatos, 7% mais casos de tentativas de homicídio e 22% mais ameaças de morte.

De acordo com os dados do Centro de Documentação, o ano de 2019 também registrou o maior número de assassinatos de lideranças indígenas dos últimos 11 anos. De 9 indígenas assassinados em conflitos no campo, 7 eram líderes de comunidades. Os conflitos pela água bateram novamente recorde: foram registrados 77% casos a mais em relação a 2018.

“2019 foi marcado por grandes tragédias no campo. Isso é também outro dado que aparece aqui no caderno: em janeiro de 2019, 272 pessoas foram enterradas vivas em Brumadinho e isso a gente considera também uma violência no campo; em 10 de agosto, aquela tragédia do fogo aqui na Amazônia, também é considerado um ato de violência contra o trabalhador no campo; e, no final do ano, óleo invade o litoral do nordeste e isso também aparece como sendo uma violência, porque esse óleo se espalhou por diversas comunidades ribeirinhas e de pescadores artesanais, prejudicando enormemente as pessoas que viviam no campo. Portanto, pessoas que sofreram nesse caso aí também, um ato de violência e isso está constando nesse caderno que hoje foi lançado pela CPT.”

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