OPINIÃO: “O QUE VIRÁ FAZER PRESIDENTE ARGENTINO NO BRASIL?”

 

Ney Lopes

Amanhã, 2, chegará a Brasília o presidente argentino Alberto Fernandez, acompanhado de vários ministros.

Viagem às pressas, com o objetivo de obter financiamentos do BNDES.

O presidente Lula, ao visitar Argentina, disse que o governo brasileiro pretende ajudar a construir o gasoduto Nestor Kirchner.

Esse gasoduto terá 573 quilômetros e transportará gás de xisto do remoto norte da Patagônia para as cidades argentinas e centros industriais no Leste.

O empreendimento é considerado um instrumento chave para impulsionar a extração de gás e óleo de xisto na região conhecida como Vaca Muerta, que abriga uma das maiores reservas.

Por enquanto a área é um deserto, aguardando a chegada do dinheiro brasileiro.

O gasoduto será um passo decisivo em direção ao objetivo de reduzir a dependência argentina das importações de combustível, mesmo que para o meio ambiente o resultado seja terrível.

Se fosse no Brasil, pelas regras do IBAMA, ele jamais seria aprovado.

São de grande proporção as dificuldades financeiras da Argentina — que tem suas reservas líquidas no Banco Central praticamente zeradas

Inflação em março na Argentina é maior que a taxa acumulada em 12 meses no Brasil.

O comércio em Buenos Aires coloca placas: “Hoje mais barato que amanhã“.

A Argentina está desesperadamente em busca de financiamento

A agenda do encontro incluirá também a busca de mecanismos de financiamento para as exportações brasileiras no mercado argentino, dada à escassez crítica de divisas no país.

Nos primeiros dois meses do ano, as exportações brasileiras para a Argentina aumentaram quase 20%, em comparação ao mesmo período do ano passado.

Os exportadores brasileiros se queixam pela demora em receber os pagamentos por suas vendas para a Argentina — em muitos casos de até 180 dias ou mais —, e atualmente a situação atingiu níveis muito complicados para ambos os lados.

Do ponto de vista político, a profunda divisão causada no Peronismo (o movimento político criado pelo presidente Juan Domingo Perón, na década de 1940) faz com que, quem assume o poder queira destruir o que o outro fez.

Argentina enfrenta ainda outro desafio político.

O peronismo, como os Kirchner, entra em choque constante com o agronegócio, o setor mais poderoso da economia e a quem chamam de “oligarquias”.

Enfraquece a economia.

Analistas econômicos entendem que o Brasil deveria direcionar investimento à infraestrutura de transporte de gás em território nacional.

Mais de um terço do gás natural consumido no Brasil é importado

Cerca de três quartos do gás natural produzido no país vêm da exploração do pré sal, por meio de plataformas off shore.

Entretanto, incrivelmente, metade do que é extraído é “reinjetado” por falta de estrutura para o escoamento.

O Brasil é um país que tem a rede de gasodutos muito ruim, com poucos quilômetros de vias de transporte se comparado a outros países, inclusive à própria Argentina.

A malha dutoviária do Brasil para transporte de gás natural tem cerca de 9,5 mil quilômetros, enquanto a Argentina tem 16 mil quilômetros de dutos para o combustível, embora seu território corresponda a um terço do brasileiro.

Pergunta-se: “Então, a prioridade de investimento do BNDES deveria ser o gasoduto da Argentina?”

O Brasil poderia investir em uma rede para interiorização do combustível.

Hoje só 2% da população brasileira tem acesso a gás natural residencial, enquanto 98% das pessoas ainda utilizam somente o botijão de gás.

Nada existe de posição contrária a parceria entre países limítrofes.

Todavia, neste caso argentino, além da contradição de se investir em um gasoduto em meio a um cenário de escassez de estrutura de transporte de gás no próprio Brasil, há questionamentos em relação ao impacto socioambiental do empreendimento, que contrariariam o compromisso do atual governo brasileiro em relação à defesa do meio ambiente e dos povos originários.

Pelo visto, a decisão final de Lula e Fernández deverá contemplar interesses econômicos recíprocos e nunca se basear em identidade de ideologias, ou outro fator, que não sejam as prioridades nacionais.

 

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