NOSSOS POETAS – Robson Renato

Robson Renato Sales do Nascimento nasceu na cidade de Pau dos Ferros no dia 13 de setembro de 1988. Filho de Francisco Cabral e Maria Vera Lúcia, cresceu cercado pelas influências poéticas, principalmente da literatura de cordel e das cantorias de viola que sempre frequentava ao lado dos pais. Aos 11 anos de idade elaborou a sua primeira construção poética quando estudava na Escola Estadual Tarcísio Maia, encorajado pela professora Ceição Bessa. Continuou caminhando nas veredas da poesia durante a adolescência mas só publicou o seu primeiro Cordel aos 25 anos, período em que cursava Geografia pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Hoje, aos 32 anos, é poeta cordelista, sonetista, trovador, declamador e possui diversas obras literárias. São de sua autoria 27 Folhetos de cordel e lançou 3 livros: “Boca de Noite” (2017), Pau-ferrense Agalopado” (2019) e “Conte Comigo” (2020). Ainda no primeiro semestre de 2021 serão lançados mais dois livros do poeta, o “João, lave as mãos” e o livro “Flor”, uma produção independente. Apresenta semanalmente o quadro “A voz da poesia” na Rádio Cultura do Oeste e o quadro “Café com Verso” na TV Cidade Oeste. Robson Renato é casado com Edna Gomes e tem dois filhos, Ingrid Natália de 10 anos, que também é poetisa e declamadora, e João Miguel de 4 anos. O poeta também trabalha com a realização de oficinas de Literatura de Cordel, palestras e recitais. Redes sociais: Instagram @poetarobsonrenato Facebook Robson Renato YouTube Poeta Robson Renato Afeto Milenar Conhecemo-nos ébrios num banquete Quando fostes servir no meu divã, Colhi flores e fiz um ramalhete Conquistando uma simples tecelã. Fiz defesa na torre de albarrã Que adornava o seu belo palacete, Jejuamos no mês do Ramadã, Reneguei nosso amor pra ser cadete. Nos casamos três séculos atrás, Falecemos nas câmaras de gás e outra vez renegamos dilações. Almas gêmeas de afeto milenar, Nesse amor que consegue transmutar As essências de mil encarnações. Quem disser que o Nordeste é sem cultura Não conhece a cultura nordestina! Quem nasceu no Nordeste brasileiro Reconhece a riqueza dessa gente Berço puro dos versos de repente Encantados por Pinto do Monteiro. No balanço de Jackson do pandeiro, Que cantou como um galo de Campina, No Cordel onde o Cordelista ensina A fazer poesia plena e pura. Quem disser que o Nordeste é sem cultura Não conhece a cultura nordestina. Sou da terra do escravo Fabião Que do som da rabeca fez valia E quebrou através da poesia As correntes da própria escravidão. Conterrâneo do eterno Gonzagão, Danço xote, xaxado e concertina, Sinto o brilho enfeitar minha retina Exaltando da forma mais segura. Quem disser que o Nordeste é sem cultura Não conhece a cultura nordestina. O Nordeste é gigante e pluralista, Boi bumbá nos lençóis do Maranhão, Os caboclos nas festas do sertão, As carrancas beijando os pés da pista. Vitalino no barro, grande artista, Fez seus traços na perfeição divina, Tem axé pelos trios da Barra Ondina, Em Recife tem frevo com fartura. Quem disser que o Nordeste é sem cultura Não conhece a cultura nordestina. Aqui temos bastante identidade Sem buscar por cultura donatária Somos grandes também na culinária Pois aqui temperamos de verdade. Nordestino defende a liberdade Mas por outra cultura não se inclina, Somos fortes e a nossa força ensina Que o respeito provém dessa postura. Quem disser que o Nordeste é sem cultura Não conhece a cultura nordestina.   O SEGREDO DO BORNÓ DE CHICO DE DONA NIRA Andava pelo Sertão Um senhor muito contente Riscando a face do chão Num camelo de corrente. Muito esperto e corajoso De coração caridoso E um sorriso encantador, Pedalava todo dia Nas trilhas da poesia Compondo versos de amor. Falava do mel da flor Da brisa da noite fria, Do carão e do condor, Da cobra engolindo a jia… Nos olhos da liberdade Fotografando a verdade Nos cenários da beleza, Guardava todas imagens Pra fazer novas viagens Versando a mãe natureza. Quando a noite deletava Os raios da luz do sol E a pasta do breu pintava O tecido do arrebol, Esse nobre cordelista Deixava a brita da pista À procura de um abrigo, E a cada nova paragem Colocava na bagagem O abraço de um novo amigo. Um bornó que transportava Transpassado no seu peito De longe se destacava Colorido e tão bem feito. Nem a mais bonita renda Ou recorte de fazenda Disputava com seu brilho, E Chico de Dona Nira Laçado por sua embira Carregava-o como um filho. O bornó fazia parte Das feições dessa figura, Que mascava o pão da arte E mastigava cultura. Mas no vão dos deletérios Surgiram muitos mistérios Por onde Chico passava, Pois todo mundo pedia Mas Francisco nunca abria O bornó que carregava. Alguns diziam com medo Que Chico levava um carma Ou que seu grande segredo Na verdade era uma arma. Disseram que era um feitiço Que o bornó era um caniço Costurado no seu couro, E o “véi” Mané Cavalcante Espalhou que o viajante Levava um pote de ouro. Mas ninguém sabia ao certo Os segredos do bornó, E Francisco, muito esperto Não dava ponto sem nó. O bornó nunca largava Nem quando se agasalhava Em qualquer pé de parede, E usava seu companheiro Como um simples travesseiro No chão, na cama ou na rede. Mas um dia de passagem Nas terras de Pau dos Ferros, Onde a forma da coragem Produz no seu povo, aferros. Francisco de Dona Nira Aprumou a sua mira Pra casa de um vate grato, Que nos campos da cultura Plantou sua assinatura Como Robson Renato. Esperou que o véu da noite Ofuscasse a claridade E nos braços da pernoite Deu voz para a liberdade. Chamou Robson, Miguel, Natália trouxe um cordel E os quatro com harmonia, Vararam a madrugada Daquela noite estrelada Recitando poesia. Era Chico declamando E o bornó do mesmo jeito Vez por outra, já chorando Aperrava-o contra o peito, Com dores nas expressões E flores nas emoções Notava-se que a saudade, Forjava cada delírio Daquele triste martírio De dor e fidelidade. Derrepente, sem censura, Uma pergunta surgiu Daquela boquinha pura Que ao mestre se dirigiu, Pois João Miguel, desde cedo Imaginava o segredo Daquele bornó tão lindo, E disse de uma vez só: O que tem nesse bornó? E Chico falou sorrindo. Não trago um pote de ouro, Brilhante, prata ou marfim, Meu verdadeiro tesouro Reside dentro de mim. Não carrego nenhum carma Nem guardo porte de arma Feitiço, praga ou magias, Levo o cheiro da paixão Da rosa da inspiração Pra todas as poesias. Pois nas pontas dessa embira Carrego nesse bornó, Saudades da minha Nira Que ficou em Mossoró. Nessa vida itinerante Sem querer, sou relutante E não sei ficar parado, Pedalando o mundo inteiro Por mais que mude o roteiro Meu cantinho está guardado. Aqui levo um vestidinho Da minha eterna princesa, Perfumado com carinho E adornado de beleza. À noite, quando me deito Forro a cabeça, me ajeito Pra sentir o cheiro dela, E no sono mais profundo Trago Nira p’ o meu mundo Numa viagem tão bela. Já falei, caro Miguel Da minha paixão ausente, Mas antes de outro cordel Quero lhe dar um presente. Francisco se aproximou, O seu bornó, retirou E num gesto camarada, Disse: tome esse bornó Que eu vou já pra Mossoró P’ os braços da minha amada. E partiu cortando o vento Pedalando na saudade, E sem descer do assento Chegou na sua cidade. Já no Jardim da morada Avistou que a namorada Cuidava das plantações, E ao lado d’ um limoeiro Um abraço verdadeiro Juntou os dois corações.
Deixe um comentário