Ney Lopes: PERDI UM FILHO E AGORA MINHA MÃE

 

Ney Lopes

Faleceu ontem, 4, a minha mãe Neuza Lopes de Souza, 99.

A causa mortis Covid 19, enfarto agudo do miocárdio, pneumonia e lesão renal aguda.

Enfrento mais uma perda irreparável, após a morte de Ney Junior, em novembro passado.

Dores profundas, que atingem toda família.

Mas, a crença no reencontro conforta a todos nós, além da resignação cristã pela manifestação da vontade de Deus.

Ela estava em estado grave, na UTI na Casa de Saúde São Lucas.

Devo registrar, por justiça, entregue a uma equipe de médicos e enfermeiros competente, humana, zelosa e carinhosa, que ligava diariamente para a família e fazia vídeos para o “adeus” que se aproximava.

Afinal, aconteceu o desenlace.

A perda em pouco tempo de um filho e de uma mãe significam a maior provação que alguém pode ter.

Nenhuma palavra suaviza essa dor.

Ela foi sepultada no Cemitério do Alecrim, no túmulo onde estão o meu Pai Josias de Oliveira Souza, o irmão Gileno Lopes de Souza e a minha avó, Mafalda de Araújo Souza da Fonseca.

O Alecrim traz recordações, por ser o símbolo da nossa vda familiar.

Lembra  fatos vividos há anos, ao lado dela, de papai e irmãos.

Naqueles tempos, muitos sonhos vicejavam na minha mente cheia de fé e confiança em um futuro, que parecia custar a chegar.

O meu pai, Josias, veio do Açu e instalou a alfaiataria Globo, na avenida um.

Morávamos na rua Presidente Quaresma, onde residiam as famílias de Sinval Poti, Dr. Vicente Dutra, Dr. Hildebrando Matoso, Paulo Bulhões, Coronel Jovino Lopes, capitão Gurgel, José Fernandes, o casal Wellington e Etelvina, Marcilio e irmãos, Bráulio da movelaria (pai do escritor e jornalista Alex Nascimento), Miguel do Armazém Estrela, Esaú Vilela, Pedro Costa e outros.

Aos sábados ia na companhia dos meus pais à feira do Alecrim.

Teve razão o cordelista Elinaldo Medeiros, quando recitou à época: “Amigo vou lhe dizer, ouvinte vou te contar. Se arrume pois sábado vamos juntos passear, e na feira do Alecrim maravilhas vou te mostrar”.

Aos domingos despertava às quatro da manhã e com a família, assistia à missa na Igreja de São Pedro.

Lá estava aquilo que o notável cronista Sanderson Negreiros chamou de “multidão de personagens”, a maioria composta de congregados marianos, filhos de Maria, fiéis.

No altar, a figura do padre Martinho, falando com sotaque polaco, gestos largos e voz aguda.

Ele chegava à Igreja antes do início da missa e sempre estava na porta, cumprimentando a todos.

Após a missa, convidava alguns fiéis para o café da manhã na casa paroquial, ao lado.

Frustrava-me nunca ser convidado.

O Cemitério do Alecrim, onde já repousa a minha mãe,   traz outras recordações.

Em 1959, perdi o primeiro familiar próximo.

Lá deixei a minha avó materna Idalina, suave, santa, abnegada.

Depois, o meu avô materno Manoel Lopes da Silva Neto.

Em 1980, a figura humana e humilde do meu pai, Josias.

Sanderson definiu bem o Cemitério do Alecrim, como um lugar onde “os epitáfios esplendem ao sol de verões penitentes e invernos dourados pela lembrança”.

Imagens & recordações

Trago comigo a imagem da avenida um onde morei anos e seus personagens.

O posto do SAPS, situado no centro do bairro,  era o Serviço de Alimentação da Previdência Social, criado por Getúlio Vargas para vender alimentos baratos à população.

Diariamente, recebia o encargo de mamãe para entrar em filas intermináveis e comprar o pão.

Na memória, figuras respeitadas como “seu” Álvaro Navarro, Celso Dutra e Wober Pinheiro, donos de farmácia, que amenizavam a dor dos seus clientes, com receitas prontas e eficazes; do “seu” Chiquinho, “seu” Artur e “seu” Juvenal Faria, todos fazendo as vezes dos supermercados de hoje, com varejo e atacado “sortidos”; dos cinemas São Luiz e São Pedro semeando a fantasia fugaz de romances (Casa Blanca; E o Vento Levou), duelos (seriados de caubóis: Rod Cameron e outros) e épicos inesquecíveis (Quovadis).

Hoje, terça feira, 5, o Cemitério do Alecrim  amanheceu com a presença espiritual de Neuza, Josias, Mafalda e Gileno, lá sepultados.

Uma manhã de saudade  de um passado já tão distante, que continua vivo no coração.

O Alecrim, como disse Sanderson, “transcende o cheiro silvestre” da planta que lhe deu o nome.

Sem este pedaço de chão, Natal certamente seria menor.

Obrigado mamãe, por termos construído juntos fatos, momentos e convivência com pessoas.

Agora, resta a tristeza pela sua ausência, confirmada ao vê-la inerte entre rosas, partindo para a vida eterna.

Certamente, ao chegar na Eternidade viu Ney Jr, que a aguardava.

Deve ter olhado para ele e dito: “o que você faz aqui?

Ela morreu sem saber do falecimento do neto Ney Jr.

Preferimos não lhe dizer para evitar impacto emocional.

Que Deus a acolha e lhe conceda o repouso merecido!

Aqui rezaremos todos os dias por ela e os familiares queridos que já partiram.

A saudade não pode ser medida e somente pode ser preenchida pela lembrança.

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