Ney Lopes: MORRE UM ESTADISTA

Recordo muito bem o impacto que me causou, ao descer em agosto de 1991 no aeroporto de Brasília proveniente de Natal e receber a notícia de que se iniciara a queda da União Soviética.

O seu líder, presidente Mikahil Gorbachev, acabara de ser preso.

O povo protestava nas ruas de Moscou, sob a liderança de Boris Yeltsin.

Dias após, os golpistas tiveram de ceder à pressão, libertando Gorbachev, que voltou ao poder, mas renunciou ao cargo de secretário-geral do partido.

Ontem, 30, ouvi a notícia de que Mikhail Gorbachev faleceu aos 91 anos de idade.

O mundo perdeu um líder global, comprometido e defensor incansável da paz.

O seu nome está associado ao fim da Guerra Fria, queda do muro de Berlim, à reforma econômica e social (perestroika) e à abertura política (glasnost) do então regime soviético.

Por isso recebeu o Prémio Nobel da Paz.

Gorbachev ao governar fez concessões à liberdade de expressão, procurou atualizar a política soviética e possibilitou o crescimento dos movimentos nacionalistas de repúblicas como a Estónia, Letónia e Lituânia, entre outras

Quando os movimentos de protesto pró-democracia começaram a crescer pela União Soviética, Gorbachev optou por não reprimi-los com violência — como tinha acontecido nos levantamentos na Hungria, em 1956, e Checoslováquia, em 1968.

Os seus aliados abandonaram-no.

Transformou-se  no bode-expiatório para os problemas econômicos e políticos, que marcariam os fracassos do país nos anos 90.

Reconhecido no Ocidente como defensor da liberdade, na Rússia ainda é tido como uma “persona non-grata”, embora já tenha galvanizado muitas simpatias.

Gorbachev alinha-se como um dos maiores estadistas da história humana, ao lado de Winston Churchill, Mandela, Luther King, Abraham Lincoln e tantos outros.

Tem razão o professor Daniel Afonso da Silva ao usar no seu livro a expressão de que, uma coisa é ser chefe de Estado e outra é ser estadista de verdade

Um dos momentos que mais revelaram a altivez de Gorbachev na defesa da paz mundial foi quando ele ao receber o Prêmio Nobel da Paz em 1990, observou que a “paz não é unidade na semelhança, mas unidade na diversidade”.

O mundo livre reverencia a memória de Gorbachev.

Infelizmente, pelo desatino de Putin, o atual dirigente soviético, tem razão o economista Ruslan Grinberg, que ao visitar Gorbachev em junho passado, declarou:

“Ele deu-nos a todos a liberdade, mas nós não sabemos o que fazer com ela”.

Publicado no Diário do Poder https://bit.ly/3AsFFuw

 

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