Ney Lopes: “ELEIÇÃO, MEDO DA CORRUPÇÃO E AUTORITARISMO”

Ney Lopes

A pesquisa do Datafolha é o retrato 3×4 do atual quadro eleitoral brasileiro.

Confirma-se que não há provável vencedor ou vencido, por antecipação.

Há dúvidas sobre certos movimentos e reações do eleitor brasileiro, ainda não totalmente fotografados nas pesquisas.

Veja-se o exemplo daqueles (2%) que disseram ter mudado de ideia sobre o voto após o debate.

Quase metade (45%) votava em Lula como candidato antes do programa e os demais se dividiam entre Bolsonaro (17%), brancos e nulos (18%) e indecisos (20%).

Esse número induz a uma interpretação, de que o crescimento do presidente se apoia não em uma conquista pessoal de eleitores, mas no recuo daqueles que decepcionados com ele admitiam votar no petista e agora recuam.

Para onde irão esses votos?

Incógnita, mas talvez aumente o percentual de indecisos ou abstenção.

Como mero palpite, admito que dois fatores centrais influirão decisivamente na decisão final do eleitor.

De um lado, o temor da tendência autoritária de Bolsonaro que, caso saia fortalecido pelas urnas, poderá tentar implantar uma “democracia” ao seu modo no país, no estilo de Erdogan, na Turquia.

Bolsonaro também se considera irmão do político de ultradireita na Hungria, Viktor Orban que combate o sistema judiciário húngaro e entidades de direitos humanos.

De outro lado, o temor de que se repitam os fatos públicos e notórios de corrupção nos governos petistas, com devoluções de somas astronômicas de dinheiro público.

Todos esses temores são agravados, em razão do lulismo e do bolsonarismo terem seguidores, que embora não sendo maioria, formam verdadeiras seitas, com “bolsões” de fanáticos, intolerantes, descompensados, que não raciocinam, apenas repetem “chavões” e se consideram acima do bem e do mal.

O que se observa é que a polarização leva consigo um aprisionamento ao passado dos dois candidatos e o medo de que por isso o futuro seja comprometido.

Não há preocupações com propostas e visões do futuro do país.

A força de Lula surge no ódio a Bolsonaro.

A força de Bolsonaro do ódio a Lula.

A história das eleições presidenciais brasileiras mostra que as campanhas eram diferentes.

Tradicionalmente, antes da explosão do ambiente polarizado, campanhas presidenciais envolviam o mínimo de proposições sobre o futuro, num jogo onde o eleitor aceita perspectivas de  um futuro melhor do que o existente.

Hoje nada disso existe.

Tudo se agrava pelo fato de que o futuro presidente terá a responsabilidade de  comandar a fase pós pandemia, que gerou crise sanitária, impacto econômico e desemprego.

A guerra na Ucrânia cria tumulto global.

Aumenta a “guerra fria” entre China e Estados Unidos, o que obrigará uma posição do futuro governo.

Não há como excluir as influências externas, que colocam pressões e obrigam a tomar decisões difíceis para manter a estabilidade da nação.

As urnas se aproximam no segundo turno e o prognóstico é que o  país perplexo decida, em função do temor de volta da corrupção, ou o retorno ao autoritarismo do passado.

Situação muito difícil.

Deus nos proteja!

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