Ney Lopes: “Centrão” de Lula, PT e RN

Ney Lopes – jornalista, advogado, ex-deputado federal – [email protected]

Trazendo consigo, a ideia fixa de continuar a aglutinar o “centrão” político no RN e no país, encontra-se no RN o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, com cara de conciliador e pacificador. Segundo palavras próprias de Bolsonaro e de Lula, em passado recente, o “Centrão” sempre foi a “velha política” e o fisiologismo, ou sejam, ganhos dos partidos e dos políticos, independentemente de ideologias e interesse público.

Ambos mudaram. O presidente abriu as “portas” ao PP. Eleito em 2002, em aliança com o PL, o alicerce de Lula foi o centrão, tudo que o seu partido condenava. Agora quer repetir o mesmo comportamento anunciado em visita ao Acre, quando declarou que já tinha perdido três eleições presidenciais e não podia perder pela quarta vez. Criou o PT light, com o “slogan” de “Lulinha paz e amor”. Para afastar-se da esquerda, trouxe para vice o megaempresário José Alencar e “boa parte” da avenida Paulista, a quem serviu com zelo especial.

A estratégia petista passa a ser catalisar, estimular e incentivar os movimentos populares de conflitos já existentes no Brasil antes da pandemia, tais como, crise política, institucional, econômica, saúde pública e social. Com a aproximação das eleições de 2022, Lula sabe que o enfretamento das várias crises nacionais se dará pela política e não por sua negação. Por tais razões, não consta nas suas agendas locais encontros públicos, certamente para evitar protestos e rejeições.

Mas, o que significa a presença hoje de Lula no RN?  Quais os desdobramentos possíveis?

O PT em nosso estado é um produto político híbrido e com raízes de quadros dirigentes basicamente “importados”, sem origem, ou vínculos nativos.  Nunca conseguiu ganhar a eleição em Natal. A governadora Fátima Bezerra, 66, nascida em Nova Palmeira na Paraíba, filiou-se ao PT-RN em 1980 e é atualmente a única mulher a governar um estado brasileiro. Em 1988, a escassez na sigla partidária de presença na política potiguar criou dificuldades para a escolha do vice-governador de Fátima, que terminou sendo o procurador Antenor Roberto, ligado ao Partido Comunista do Brasil.

O deputado Fernando Mineiro, natural de Curvelo (MG) foi o primeiro vereador petista de Natal, em 1988. O mais recente “importado” do PT potiguar foi o senador Jean-Paul Prates, que tem mais de 25 anos de trabalho em áreas privadas operadoras de campos de petróleo, gás, exploração e produção. Após preterir militantes locais e ter tido a “chance” de assumir a “suplência” de Fátima (!!!), o “neo” petista tem mudado as suas concepções econômicas nessa área e busca aproximar-se o máximo de Lula, hoje o seu “guru”.

O que poderá acontecer em 2022?

Difícil responder na atual conjuntura de instabilidade. O sábio italiano Maquiavel do século XVI, um dos primeiros “analistas de conjuntura políticas”, dizia que temos que tratar a política – a ciência do poder – com racionalidade, frieza, cálculo. Ele advertia, entretanto, que o cálculo da política tinha que ser diferente, pela razão de que o alvo não é um objeto morto, inerte. Ele pensa, calcula e atira no oponente.

Lula chegou a Natal, dizendo que só definirá a sua candidatura em 2022. Começa a recear que certos “alvos” o atinjam antes de outubro de 2022, inclusive decretações de novas inelegibilidades, o que é possível.  Há o temor, inclusive da governadora Fátima Bezerra, de que Bolsonaro possa recuperar votação, já que em 1988 venceu em 16 estados e 21 capitais. No Nordeste, reduto primordialmente petista, logrou vitórias no RN. AL e PB.

E a oposição ao PT no RN?

O mínimo que se pode dizer é que está fragmentada, em razão das conveniências das alianças. O próprio sistema político-eleitoral do governo estadual não é tão consolidado, quanto parece. Entra na “cena política” a família Alves, com sinais de aproximação à Lula. Só hipótese, ninguém se engane. Acho que será mais “tagarelice”, do tipo discurso ardiloso com que se pretende enganar alguém.

O que poderá acontecer de novo RN é se prevalecer a tese em análise do PP nacional de permitir coligações amplas nas eleições proporcionais, até com o PT as coligações isoladas para governo e senado, surgirão vários candidatos a governador e senador. Tal solução seria mais democrática e acabará com a heresia oportunista e irresponsável da eleição radicalizada entre Lula e Bolsonaro, para dar chances a “paraquedistas”. O caminho natural será a polarização entre os mais e menos preparados candidatos, em todos os níveis, para o exercício dos mandatos futuros. De imbecis o eleitor encheu!

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