Ney Lopes ; A LIÇÃO DAS ELEIÇÕES DE PORTUGAL

Ney Lopes

 

Concluída a apuração dos votos, mesmo na madrugada os portugueses foram às ruas e cantaram mais uma vez espécie de hino nacional usado para essas ocasiões, que é a canção “Grândola, Vila Morena”.

Na Revolução dos Cravos, que acabou com a ditadura em Portugal no dia 25 de abril de 1974, essa música teve um papel crucial.

O primeiro verso canta: “Grândola, Vila Morena. Terra de Fraternidade. O povo é quem mais ordena, dentro de ti, ó cidade”.

No resultado final, aconteceu o que nenhuma pesquisa antecipou.

O Partido Socialista venceu com maioria absoluta as eleições legislativas.

O primeiro ministro Antonio Costa, o grande vencedor, poderá formar Governo e aprovar o seu Orçamento para 2022 sem ter de negociar com esquerda, nem direita.

O partido social democrata, de centro direita, em segundo lugar com 30% dos votos.

O bloco de esquerda sofreu verdadeira hecatombe.

Ficou   longe do terceiro lugar que ambicionava, e que ocupava há seis anos.

Apenas cinco deputados foram eleitos.

A surpresa foi o “Chega”, de ultradireita, emergir como a terceira força parlamentar, saltando de um deputado para onze.

Há alguns aspectos que merecem análise no pleito português.

A chamada”geringonça” era um grupo de partidos que unia socialistas e comunistas, desde 2015, em apoio ao governo.

As eleições foram convocadas após os então comunistas do Bloco de Esquerda se juntarem à direita para derrubar o orçamento de 2022

A consequência política é que os eleitores castigaram a “geringonça” e colocaram a extrema-direita (“Chega”) como a terceira força parlamentar no país (7.1% dos votos).

Os dois partidos de extrema-esquerda pagaram o preço, perdendo mais da metade de seus assentos

Com isso, o primeiro ministro Antonio Costa eliminou” os seus rivais do Bloco de Esquerda.

Outra vítima foi o partido de direita CDS-PP, que pela primeira vez desde as eleições para a Constituinte em 1975 deixa de ter representação no Parlamento.

Cabe observar que a carta de alforria dada ao primeiro ministro lhe permitirá um governo mais em sintonia com os interesses europeus e, até empresariais, sem depender da vigilância da extrema esquerda.

Após a apuração das urnas iniciou-se debate sobre o fracasso das pesquisas eleitorais, que erraram.

Todas falharam.

Analistas defendem que tais sondagens terão que serem olhadas de outra forma na forma de faze-las, sob pena de perderem totalmente a credibilidade.

Na verdade, divulgam-se dados estatísticos, que nada têm a ver com a realidade.

A lição das urnas portuguesas é que a pandemia influenciou o comportamento do eleitor.

Ele age em busca da segurança, que lhe permita sobreviver e não de polarizações ideológicas, ou radicalismos.

O estilo do primeiro ministro Antonio Costa é civilizado.

Não agride adversários, nem os poderes constituídos da República.

Ele não é de um esquerdista, mas sim de um homem moderado, que usa a expressão “socialismo” como forma de priorizar o social em seu governo.

A sua consagração nas urnas demonstra que o eleitor buscou em verdade o caminho do equilíbrio, do bom senso, em razão de que o governo do primeiro ministro vinha atendendo as expectativas da população.

Enfim, “social” e “postura política” de equilíbrio são palavras chaves para galvanizarem apoios nas eleições pós pandemia.

Ocorreu em Portugal e também se repetirá no Brasil, ou em qualquer lugar do mundo.

Esta a lição dada nas eleições portuguesas.

 

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