Ney Lopes A ENTREVISTA DE SIMONE TEBET

Ney Lopes

A senadora Simone Tebet, candidata a presidente da República pelo MDB, encerrou ontem, 26, o ciclo de debates promovido pelo Jornal Nacional, da rede Globo.

Prejudicada pelo horário eleitoral gratuito, iniciado nesta sexta, o patamar de audiência da sua entrevista foi o mais baixo entre as sabatinas da semana.

No geral, ela expôs muito bem a linha do seu pensamento, que é o “liberalismo”, a moda Paulo Guedes, com economia aberta, como meio de distribuir renda, combater desemprego e inflação.

A lógica da senadora é a do economista Milton Friedman, da Escola de Chicago, que partia do princípio de que o dever do estado, através das empresas, é maximizar o lucro.

Friedman notabilizou-se por seu apoio incondicional ao “livre mercado”.

Embora se refira ao “social”, ela jamais utilizou a expressão conjunta “liberalismo social”.

Na verdade, a candidatura da senadora nasceu ungida por grupo da elite econômica do país, manifestado em documento denominado “plataforma Change”, criada por Teresa Bracher, mulher do ex-presidente do Itaú Unibanco Candido Bracher e subscrito por empresários e economistas.

Faltou, no primeiro passo, cheiro de respaldo popular e conteúdo político.

Ao longo da campanha, a candidata evolui para ser favorável a teses como furar teto de gastos, a fim de cobrir auxílio permanente.

Quando ela diz apoiar a taxação de lucros e dividendos, hoje tese unânime nos países de livre mercado, faz a ressalva da necessidade de revisão simultânea das faixas de cobrança do Imposto de Renda da pessoa jurídica.

A observação sobre o pensamento liberalizante, manifestado pela emedebista, é em consequência da corrente global predominante, que defende uma mudança radical do capitalismo para o mundo pós-pandemia.

Essa a corrente de pensamento econômico tem a frente a economista Mariana Mazzucato.

Segundo ela, a pandemia deve mudar como o capitalismo funciona, dando espaço para maior participação do Estado na garantia de serviços essenciais de qualidade.

É aplaudida por pelo Papa e Bill Gates.

Também é autora do livro O Estado empreendedor: Desmascarando o mito do setor público vs. setor privado.

O posicionamento de Tebet deve ser exaltado, em razão da coragem de ter um discurso contra o ódio, desinformação e guerrilha virtual.

Um ponto altamente positivo foi o anuncio que ela fez de implementar a Lei de Responsabilidade Social, projeto do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) do qual é relatora, que complementará a política de distribuição de renda nacional.

Politicamente, a senadora sofre com a divisão do seu próprio partido.

O seu nome não é conhecido do eleitorado, em uma disputa marcada por dois nomes com taxa de conhecimento bastante elevada, ajudando a explicar a forte cristalização da intenção de voto na corrida presidencial.

Apenas dois em cada dez indivíduos entre o eleitorado de renda baixa afirma conhecer a candidata.

Mesmo assim, Tebet demonstra coragem e insiste em ser opção entre Lula e Bolsonaro.

Terminará dividindo votos com Ciro Gomes, quando na verdade deveriam estar juntos para a proposição de um pacto de união nacional, discutido na campanha e implantado após a eleição.

Definidas as diretrizes desse pacto, à semelhança do que ocorreu no passado no Chile e Espanha, a sociedade brasileira seria despertada para o que poderá acontecer “no dia seguinte à eleição”, caso um candidato radical ganhe a eleição.

Ganhando Lula ou Bolsonaro, no outro dia começará a “caça às bruxas” para dar o “troco”.

Em conclusão, foi muito boa a entrevista de Tebet, mostrando realmente o que pensa para o julgamento popular.

O jogo está apenas iniciado e os correligionários da senadora argumentam com o futebol, ao repetirem “o jogo só acaba quando termina”; “quantos gols são feitos no último minuto? ”.

Agora, só esperar.

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