Neuroconversa: O que dizem os especialistas sobre os tipos de letras
Olá, Aprendentes de meu coração
Cursiva ou bastão? Eis a questão!
Letras, sílabas, palavras, escrita, oralidade, esses são alguns elementos, fases e/ou etapas que geram angústias nos pais quando as crianças estão no processo de alfabetização.
O que realmente é importante e como ajudar nesse momento?
Letra cursiva ou de bastão, o que dizem os especialistas?
Muitas são as discussões em torno do ensino da letra cursiva no processo de alfabetização, por isso, nossa conversa vai refletir considerando as orientações da BNCC- Base Nacional Comum curricular e os fundamentos da Neurociência.
Essas discussões estão ancoradas nos estudos da Psicogênese da Escrita e do Construtivismo, que consideram que o aluno deve estar no centro do processo de aprendizagem. Foi a partir desse olhar que se difundiu a ideia de que, no princípio da alfabetização, a letra mais recomendada, mais adequada seria a letra de imprensa maiúscula, por isso, a letra cursiva foi perdendo espaço e foi crescendo a dúvida quanto à importância do seu ensino no início da aquisição da escrita.
De acordo com a neurociência “a escrita com a letra cursiva exige mais esforço entre a integração das áreas simbólicas e motoras do cérebro, estimulando o cérebro e melhorando as conexões neurais, de uma forma que a letra bastão não consegue, proporcionando assim, o desenvolvimento relacional dos hemisférios direito e esquerdo, aprimorando a atenção, a linguagem, a memória de trabalho e uma fluência leitora com mais eficiência.
Talvez seja nesse limiar que a BNCC nos diz que a forma de escrita cursiva deve estar presente nas práticas pedagógicas ainda no 1º ano do Ensino Fundamental, assim, estabelece que no 1º ano o aluno conheça, diferencie e relacione todos os tipos de letra para, no 2º ano, aprender a escrever efetivamente a letra cursiva.
Outro fator importante é refletir sobre escrita à mão e a digitação, visto que temos uma geração de nativos digitais. E, para esse pensar, recorremos mais uma vez a neurociência e as pesquisas cientificas, assim, trazemos a pesquisa “High-performance brain-to-text communication via handwriting” (Comunicação cérebro-texto de alto desempenho via escrita à mão) publicado em março de 2021, na revista científica britânica Nature, que nos diz que o domínio da caligrafia traz diversos impactos para o cérebro e que difere bastante da digitação.
Nesse ínterim, Spolidorio (2021) nos diz que “a letra cursiva estimula o cérebro de uma forma que a digitação e a letra bastão não conseguem, que consegue melhorar as conexões neurais do cérebro das crianças”.
Segundo a autora supracitada, a retenção de informações é outro benefício da letra cursiva para as crianças, pois o cérebro tem mais tempo de interpretar o conteúdo, o que garante uma maior compreensão do texto. Ou seja, “ao usar a letra cursiva, as crianças registram o pensamento que vem à tona e, para que haja fluidez, elas precisam ser fluentes e eficientes, o que contribui para a concentração e o foco, por isso, escrever em letra cursiva promove a reflexão sobre o que está sendo escrito”, explica a especialista, contribuindo para a linearidade do pensamento.
Vale ressaltar que o princípio da prática alfabetizadora vai muito além do tipo de letra, envolve vários outros fatores como: coordenação motora, memória muscular, consciência fonológica, psicomotricidade, por exemplo. Bem mais que o tipo de letra, sem desmerecer a importância destas, no processo de alfabetização é importante que a criança entenda o processo de construção das palavras.
Enquanto neuropsicopedagoga e pesquisadora da área, defendo que não precisamos sobrecarregar, exigir, pressionar pedagogicamente uma criança que esteja na educação infantil para escrever com a letra cursiva, mesmo sabendo de todos os benefícios, visto que ela ainda não está madura o suficiente para realizar esse tipo de escrita, ainda não tem maturidade motora. Entretanto, para que a letra cursiva possa surtir o efeito desejado, é preciso que seja estimulada desde a educação infantil, ainda antes da alfabetização da criança.
Então, escrever nesse momento não é adequado e podemos trabalhar com a bastão, mas conhecer, ser apresentada, saber da existência é imprescindível. E depois, ao entrar no 1º ano já começar os primeiros traçados cursivos é mais que adequado e só trará benefícios para as crianças e seu progresso na aquisição da escrita.
E em casa como podemos ajudar nossos pequenos?
Sabendo que a escrita cursiva estimula o lobo occipital, responsável pelo reconhecimento das letras, podemos trabalhar as letras e movimentos integrados a atividades lúdicas, como:
Movimento de pinça
Alinhavar
Escrever e desenhar em isopor e papelão
Desenhar círculos e traços livres
Desenhar de forma contínua, sem soltar o lápis do papel
Uso da massa de modelar
Cortar, rasgar, recortar papel
Colagem com materiais diversos (grão, lã, serragem, pedrinhas)
Bandeja sensorial
Encaixar, montar e desmontar
Letras móveis
Letras vazadas…
Por fim, quero enfatizar que a fase da alfabetização não precisa ser sofrida, não tem que doer nas crianças, nem nos pais e pode ser muito gratificante. Estimulem com leveza e alegria, não comparem as crianças, auxiliem com a magia do saber e o encantamento do aprender e o resultado será recompensador.
E para não concluirmos, abraços pedagógicos e até a próxima!
Por Maria Carmem
Dra da Aprendizagem
@carmem.neuro.psicopedagoga
(84) 996095957