Nancy Pelosi desafia Pequim e desembarca em Taiwan

Acabou o suspense. Depois de manter por muito tempo a imprecisão sobre sua visita a Taiwan, a presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, chegou a Taiwan, nesta terça-feira (2) à noite. A visita pode inflamar as já tensas relações entre Washington e Pequim.

Texto por: RFI

Nancy Pelosi, de 82 anos, é a mais alta autoridade eleita dos EUA a visitar a ilha em 25 anos. A chegada dela em um avião militar americano foi transmitida ao vivo no canal YouTube do ministério das Relações Exteriores de Taiwan. A deputada democrata desembarcou no aeroporto de Songshan, onde foi recebida por Joseph Wu, ministro das Relações Estrangeiras de Taiwan.

“A visita de nossa delegação a Taiwan honra o compromisso inabalável dos Estados Unidos em apoiar a vibrante democracia de Taiwan”, afirmou Nancy Pelosi ao desembarcar no território autônomo. “Nossas discussões com a liderança de Taiwan reafirmam o apoio ao nosso parceiro e promovem nossos interesses compartilhados, incluindo o avanço de uma região do Indo-Pacífico livre e aberta”. A deputada democrata ainda afirmou: “Nossa visita é uma das muitas delegações do Congresso a Taiwan e de forma alguma contradiz a política de longa data dos EUA”.

O último presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos a visitar Taiwan foi Newt Gingrich em 1997.

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Uma atitude “extremamente perigosa”

Pequim reagiu imediatamente, denunciando a atitude “extremamente perigosa” dos Estados Unidos. “Os Estados Unidos estão tentando usar Taiwan para conter a China”, afirmou o ministério das Relações Exteriores chinês em um comunicado, acrescentando que Washington “continua a distorcer, obscurecer e esvaziar o sentido do princípio de uma só China, intensificar os intercâmbios oficiais com Taiwan, e encorajar as atividades separatistas de ‘independência’ de Taiwan”.

O exército chinês prometeu, nesta terça-feira, lançar “ações militares direcionadas”, em resposta à visita de Nancy Pelosi a Taiwan, desafiando os abertamente os alertas feitos pela China. “O Exército de Libertação Popular está em alerta máximo e lançará uma série de ações militares direcionadas para defender a soberania nacional e a integridade territorial e impedir a interferência externa e as tentativas separatistas de ‘independência de Taiwan'”, afirmou o porta-voz do ministério da Defesa, Wu Qian, em um comunicado.

Mais de 20 aviões militares chineses entraram no espaço aéreo de Taiwan, nesta terça-feira.

Traição

As autoridades chinesas já haviam alertado Washington contra uma possível visita, alertando que os Estados Unidos “pagariam o preço por seu ataque à soberania e segurança da China”.

“O lado americano traiu sua palavra na questão de Taiwan”, reagiu o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, em um comunicado, referindo-se ao compromisso dos Estados Unidos, desde 1979, de não ter relações oficiais com Taiwan.

Moscou julga a visita da presidente da Câmara dos Representantes dos EUA a Taiwan como “pura provocação”. O Kremlin reitera a “solidariedade absoluta” da Rússia à aliada China.

Pequim considera Taiwan, território com uma população de cerca de 23 milhões de pessoas, como uma das suas províncias, mas que ainda não conseguiu reunificar com o resto de seu território desde o fim da Guerra Civil Chinesa (1949). Contra qualquer iniciativa que dê legitimidade internacional às autoridades taiwanesas, Pequim se opõe aos contatos oficiais entre Taiwan e outros países.

Nancy Pelosi chegou a Taiwan depois de passar pela Malásia, a segunda etapa de sua turnê asiática, e Singapura. De acordo com o jornal taiwanês Liberty Times, que cita fontes anônimas, a líder americana deve se reunir na quarta-feira (3) com a presidente taiwanesa Tsai Ing-wen, um desafeto de Pequim porque ela vem de um partido independentista.

(Com informações da RFI e AFP)

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