Na ONU, Bolsonaro ataca Lula, diz que imprensa mente sobre Amazônia e se opõe a sanções contra a Rússia

Nesta terça-feira (20), o presidente brasileiro Jair Bolsonaro, usou o discurso de abertura da 77ª edição da Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU) para atacar seu adversário na disputa presidencial e acusar a imprensa de mentir sobre dados que refletem o aumento do desmatamento da Amazônia. Em Nova York, diante de uma audiência internacional, o líder brasileiro fez um discurso com diversas afirmações falsas e distorcidas e usou dados imprecisos.

Na reta final da campanha eleitoral, Bolsonaro fez a ONU de palanque e afirmou que no período 2003-2015, em que o país foi governado por Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, “US$ 170 bilhões” foram desviados da Petrobras. Sem citar o nome de Lula, seu adversário que lidera as pesquisas de intenções de votos para a disputa presidencial, Bolsonaro mentiu dizendo que o “responsável por isso foi condenado em três instâncias por unanimidade”.

O presidente fez outra afirmação falaciosa quando disse que seu governo extirpou “a corrupção sistemática que existia no país”, apesar dele e membros da sua família estarem envolvidos em investigações sobre compra de imóveis com dinheiro vivo e sobre a existência de funcionários fantasmas no escândalo das “rachadinhas”. O governo Bolsonaro é alvo de diversas acusações de corrupção, como a suspeita de um gabinete paralelo dentro do Ministério da Educação para encaminhar recursos a aliados, além de acusações de propina relacionadas à compra de vacinas pelo governo federal.

Sobre a Covid-19, Bolsonaro disse na tribuna da ONU que durante a pandemia seu governo “não poupou esforços para salvar vidas e preservar empregos”, sem mencionar as mais de 685 mil mortes no país pela doença.

Em aceno à sua base de apoio, Bolsonaro reforçou que o “agronegócio é orgulho nacional” e afirmou que “dois terços do território nacional permaneceram com vegetação nativa exatamente como estava quando o Brasil foi descoberto em 1500”. Ignorando dados e imagens de satélites amplamente disponíveis e registros de invasões de áreas preservadas, mineração e exploração ilegal de madeira, Bolsonaro disse que “80% da Floresta Amazônica continua intocada”, ao contrário do que divulga a imprensa nacional e estrangeira, segundo ele.

O chefe de Estado brasileiro defendeu a reforma do Conselho de Segurança da ONU, citou a “Operação Acolhida” e a entrada de imigrantes venezuelanos no Brasil. Bolsonaro também convidou católicos perseguidos na Nicarágua a se refugiarem no território brasileiro. Disse que seu governo combateu a violência contra a mulher “com todo o rigor” e destacou o trabalho da primeira-dama Michelle Bolsonaro. O presidente esteve envolvido em diversos casos recentes de ataques públicos a mulheres e falas machistas e enfrenta alta da rejeição entre essa parcela do eleitorado.

Segundo Bolsonaro, houve queda de 7,7% de feminicídios no país. No entanto, de acordo com a agência Lupa, durante seu governo houve aumento de 9,1% de casos desse tipo de crime no Brasil. Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública mostram que, em 2018, último ano da gestão MichelTemer, houve 1.229 registros de feminicídios no país. Em 2021, o número subiu para 1.341.

Defesa da Rússia 

Sobre a Guerra da Ucrânia, o presidente expressou ser “contra o isolamento diplomático e econômico”, indicando que seu governo não vai adotar sanções contra Rússia e nem romper contato com Moscou. Apesar da pressão americana, a posição do Brasil em relação ao conflito foi mantida.

“Não acreditamos que o melhor caminho seja a adoção de sanções unilaterais e seletivas, contrárias ao Direito Internacional. Essas medidas têm prejudicado a retomada da economia e afetado direitos humanos de populações vulneráveis”, afirmou. A saída para o conflito, segundo Bolsonaro, é o diálogo.

Protestos

Nas proximidades da ONU, um grupo de pessoas protestou durante a abertura do maior evento do calendário diplomático. Elas carregavam faixas pedindo a proteção dos povos indígenas e a demarcação de terras.

Antes do discurso, imagens contra Bolsonaro foram projetadas no prédio da ONU estampando a frase “vergonha brasileira” e as palavras “vergonha” e “desgraça” em várias línguas. No domingo, ativistas e representantes dos povos indígenas fizeram outro protesto denunciando a política ambiental do atual governo.

24h em Nova York

O presidente retorna para o Brasil ainda nesta terça-feira (20). A visita oficial foi mais breve do que a dos anos anteriores, durou menos de 24h, encurtada pelo deslocamento ao Reino Unido, onde o Bolsonaro participou do funeral da Rainha Elizabeth II um dia antes, e pela agenda de campanha no Brasil.

Bolsonaro teve um encontro de 20 minutos com o Secretário Geral da ONU, António Guterres e ao longo do dia terá reuniões bilaterais com o presidente do Equador, Guilherme Lasso, e da Polônia, Andrzej Duda. Um acordo de proteção mútua de informações classificadas e outro para eliminar dupla tributação sobre renda serão assinados com o governo polonês pelo ministro das Relações Exteriores, Carlos França.

Segundo o Itamaraty, ao longo da semana, França manterá encontros bilaterais na cidade com outros chanceleres e participará de reuniões de alto nível sobre variados temas da agenda global, como as ministeriais do G4, BRICS e IBAS. Na agenda nos EUA estão ainda uma reunião com o Secretário-Geral da Liga dos Estados Árabes, Ahmed Aboul Gheit, com os ministros de Relações Exteriores de El Salvador, Guiné Bissau, Senegal, Japão, Guatemala, Suriname, Turquia, Bahrein, Indonésia, Belarus, Camboja, Emirados Árabes Unidos, Sérvia, Irã e com o chancele russo, Serguei Lavrov.

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