Mulheres negras se mobilizam para ampliar presença na política
Por Alana Gandra – Repórter da Agência Brasil Rio de Janeiro
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres negras são menos de 1% na Câmara dos Deputados. Dos 513 parlamentares, 52 são mulheres, sendo 7 negras, segundo o critério do IBGE, que considera população negra a soma de pretos e pardos.
A coordenadora de Comunicação da Rede Umunna, Gabriele Roza, disse que a meta é qualificar o debate sobre a participação das mulheres negras na política. A plataforma desmistifica alguns mitos, como “negros não votam em negros”, “mulheres negras, se eleitas, só defenderiam pautas de mulheres negras”, “mulheres negras não têm formação para ocuparem cargos de poder”, entre outros.
A análise dos mapas de votação da deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ), em 2014, e da vereadora Marielle Franco, em 2016, mostra que a primeira teve votos em todas as 249 zonas eleitorais do estado, enquanto a segunda obteve votos nas 97 zonas eleitorais da capital fluminense. Outro dado mostra que 35% das mulheres negras candidatas em 2014 tinham curso superior.
O diagnóstico traçado na plataforma indica que apenas 2,51% das despesas de todos os candidatos ao Legislativo, em 2014, estava relacionada a candidaturas de mulheres negras e que as chances de elegibilidade são ainda reduzidas.
Fortalecimento
Para Gabriele, os movimentos sociais e um número cada vez maior de mulheres negras ativistas aparecendo na televisão e nos debates favorecem o aumento da representatividade feminina e negra na política nacional.
“Isso tudo fortalece o movimento de mulheres negras e a candidatura de mulheres negras que usam a identidade negra como ativo político. Esse contexto é muito favorável para aumentar o número de participação neste ano de mulheres negras, tanto como votantes, como políticas e eleitas.”
Poder
Para a deputada estadual Enfermeira Rejane (PcdoB-RJ), a mulher negra tem que se sentir em condições de ocupar o status de poder. “É necessário que ela se sinta com representatividade para ocupar mais cargos na política.”
Ela lembra que a mulher negra recebe menores salários quando comparada a mulheres brancas e também a homens negros. Na política, os números de subrepresentação se mantêm. Ela acredita, entretanto, que haverá maior participação de mulheres negras este ano. Segundo a deputada, as mudanças recentes na legislação também foram fundamentais para que os partidos financiem campanhas de mulheres e garantam mais tempo na televisão.
Apesar de responderem por 55,6 milhões de pessoas no Brasil e chefiarem 41,1% das famílias, as mulheres negras no Brasil recebem, em média, 58,2% da renda das mulheres brancas, de acordo com o Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça. O estudo se baseou em séries históricas de 1995 a 2015 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE.
Caminhos
Na avaliação da coordenadora nacional do Movimento Negro Unificado (MNU), Iêda Leal de Souza, são vários os caminhos para que a mulher negra tenha mais representatividade no cenário político nacional. Na avaliação dela, as mulheres precisam participar da vida partidária e procurar garantir os financiamentos – peça principal para alavancar a campanha de mulheres.
Iêda destacou que as mulheres negras têm de estar à frente também da direção dos partidos e fazer com que o estatuto e as propostas aprovadas, como a cota de 30% de mulheres e o financiamento para as campanhas, sejam atendidas plenamente.
“Nós temos que estar dentro das estruturas, para fazer com que essa pauta seja prioridade e, logicamente, ampliando nisso a presença das mulheres negras dentro dessa esfera”.
Preparação
Primeira mulher negra a se eleger para a Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro, em 1982, e a primeira senadora negra eleita no Brasil, em 1994, Benedita da Silva diz que as mulheres negras estão se preparando para essas eleições.
Segundo a deputada federal, cabe aos partidos políticos fortalecer e ajudar com recursos partidários as campanhas das mulheres. “Uma coisa que a mulher negra sofre é o fato de não ter dinheiro para enfrentar essas campanhas e como elas acontecem”, disse Benedita em entrevista à Agência Brasil.
É preciso também que os partidos coloquem à disposição os 30% que as mulheres negras candidatas têm direito.
Segundo a deputada federal, a população negra sofre muitos ataques pelas redes sociais. “É uma coisa terrível, vexatória. Por isso, é muito importante que nós estejamos nesses espaços para podermos expressar e, ao mesmo tempo, ajudar a formular políticas públicas.”
Para Benedita da Silva, a bandeira das mulheres negras candidatas é a defesa de direitos.
No próximo domingo (29) está marcada a Marcha das Mulheres Negras do Rio de Janeiro, a partir das 10h, na Praia de Copacabana. A concentração será no Posto 4, para caminhada até o Leme, zona sul da capital. Com o tema “Mais Mulheres no Poder”, as representantes do movimento negro vão relembrar o caso da vereadora fluminense Marielle Franco, cuja morte completou quatro meses ainda sem solução.