Mossoró enfrenta dificuldades para o descarte correto de lixo eletrônico

Existem 173 pontos de coleta de eletroeletrônicos espalhados pelo território nacional

Na onda de consumismo em que vivemos, a cada dia produzimos mais e mais lixo, proveniente de equipamentos eletrônicos, os chamados “e-waste”. São aparelhos celulares que trocamos ano a ano, carregadores, mouse que caem em desuso e viram sucata. O grande desafio para a sociedade atual tem sido onde descartar este material.

Durante a semana do meio ambiente – primeiros dias de junho –, a loja Miranda localizada no Partage Shopping, realiza uma campanha para desmontagem, reciclagem ou reaproveitamento de “e-waste”. O recolhimento existe em Natal desde 2011 em parceira com a Natal Reciclagem desde 2015 e cinta com o apoio da Prefeitura de Natal e de empresas atuando como ecopontos. Somente em 2016, a Miranda arrecadou em Mossoró e Natal, 2 toneladas de equipamentos eletrônicos na semana do meio ambiente.

Na ação, são recolhidos notebook, fones de ouvido, teclado, tv, mouse, controle remoto, estabilizador, impressora, CPU, gravador, conectores, relógio, pen-drive, scanner, tablet, microfone, webcam, câmera fotográfica, ipod, calculadora, lanterna, antena, entre outros objetos. Para o diretor administrativo da Miranda, Afrânio Miranda, esse tipo de lixo tem sido uma das maiores problemáticas da atualidade, não apenas pela falta de lugares para o descarte adequado, como também pelos sérios danos que pode oferecer as pessoas.

A gestora ambiental Rosângela Araújo, frisa como ocorre o recebimento desse material em Mossoró durante o restante do ano. “’No município existem duas associações de catadores de materiais recicláveis: ACREVI e ASCAMAREM, que trabalham realizando de porta em porta a coleta de todo tipo de material reciclável, inclusive os resíduos eletroeletrônicos.” Apesar da importante iniciativa, a cidade não dispõe de pontos para viabilizar o processo, ”Aqui não temos ecopontos, é possível participar de algumas campanhas pontuais sobre o tema, mas acredito que se a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) fosse atendida considerando a logística reversa, teríamos a participação dos fabricantes e pontos de vendas cumprindo suas obrigações legais, recebendo o lixo eletrônico como deveria acontecer.”

A ambientalista reforça que não há dados que apontem especificamente a quantidade de e-lixo produzido em Mossoró, mas pontua que o Rio Grande do Norte é responsável pela fabricação de mais de 5 mil toneladas desse material, ”O problema é que a maior parte dos resíduos não tem destino nem tratamento adequado. É urgente a promoção da educação ambiental com todos os envolvidos no sistema, para que possam reduzir impactos causados pelo lixo eletrônico no meio ambiente”, finaliza.

A empresa JPatrício Metais opera no ramo de comercialização e processamento de materiais metálicos no mercado do Rio Grande do Norte e também recebe lixo eletrônico. Auxilia a loja Miranda na ação realizada durante a semana do meio ambiente, além de participar ativamente em uma das etapas da logística reversa, recebendo esses materiais na região do oeste potiguar.

Joaquim Patrício Medeiros, diretor comercial da empresa, explica como acontece essa coleta, ”Recebemos o resíduo eletrônico, separamos e encaminhamos para empresas especializadas na compra dos metais, destinando-os para siderúrgicas, principalmente no comércio exterior”. Ele destaca ainda o compromisso social da destinação certa, ”O grande problema do descarte irregular são as substâncias químicas liberadas no meio ambiente, alguns delas são, chumbo, cádmio, mercúrio, berílio, entre outros. Ao serem dispensadas irregularmente podem provocar a contaminação do solo e da água. Em contato com o ser humano, podem causar doenças graves”.

Cenário Nacional

Cada brasileiro produz em média, 8,3 quilogramas – unidade de massa ou de peso, com símbolo kg, no sistema internacional de unidades (SI) – de e-waste por ano. Deste, apenas 3% são levados aos centros de reciclagem. Ocupando o 7º lugar na lista dos países que mais fabricam lixo eletrônico, é também o maior produtor desse material na América Latina, de acordo com o estudo Global E-Waste Monitor, realizado pela Organização das Nações Unidas (ONU). Aqui quase todo descarte de e-lixo ocorre de maneira inadequada.

Gerando em média, 1,5 mi de toneladas de lixo eletrônico por ano, o Brasil apresenta sérios problemas para efetivar o depósito desses itens em locais apropriados. Além da maioria dos aparelhos serem constituídos por plástico, metais e vidros – elementos que demoram a se decompor, possuem também diversos contaminantes nocivos à saúde e meio ambiente, principalmente ao solo e lençóis freáticos. Em suas composições há substâncias cancerígenas diversas, como vanádio, níquel, chumbo, cádmio, arsênio e cobre.

Legislação

A PNRS citada pela gestora refere-se a Lei 12.305/2010, que visa criar um método mais severo para destinação final dos restos eletrônicos de empresas públicas, privadas e população em geral. Através da logística reversa, fabricantes, distribuidores, comerciantes, importadores assumem a responsabilidade pela coleta, armazenamento, transporte, transbordo, tratamento/ destinação final dos utensílios eletroeletrônicos que produzem. Aprovada em 2010, a política busca conscientizar a sociedade sobre o compromisso ambiental frente ao avanço tecnológico.

Em fevereiro deste ano, o presidente Jair Bolsonaro assinou um decreto sobre a logística reversa de eletroeletrônicos, que prevê o aumento dos pontos de coleta para 5.000 até 2025. Serão repassados R$ 64 milhões oriundos do Fundo de Direitos Difusos do Ministério da Justiça, que podem ser utilizados para compra de equipamentos na coleta seletiva de resíduos recicláveis, compostagem de resíduos orgânicos, instalação de biodigestores, contentores e ecopontos. A iniciativa faz parte do Programa Nacional Lixão Zero e da Agenda Nacional de Qualidade Ambiental Urbana, apesar de uma decisão promissora não foram definidas datas específicas para o cumprimento das metas e objetivos do programa.

Dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), apontam que menos de 20% do lixo eletrônico é reciclado de modo formal no mundo, os outros 80% são depositados em aterros ou reaproveitados erroneamente. Até 2050, estima-se que o sociedade produzirá cerca de 120 milhões de toneladas de e-waste, o que implicará uma destinação apropriada a fim de que a vida no planeta ainda possa ser possível.

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