Mortalidade infantil decorrente de pré-natal precário é maior em capitais de alta renda

Highlights

  • Foram avaliados 7.470 óbitos ocorridos no primeiro ano de vida nas 27 capitais brasileiras
  • Realizar poucas consultas de pré-natal em serviços de saúde de cidades de alta renda representa um risco aumentado de morte do bebê
  • Risco de morte é maior para os filhos de mães adolescentes, enquanto ter o primeiro filho a partir dos 35 anos é fator protetor para o recém nascido

 

 

Ao analisar estatisticamente a interação entre renda e pré-natal para avaliar o risco de mortalidade infantil no Brasil, pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco observaram que realizar poucas consultas de pré-natal em serviços de saúde de cidades de alta renda representa um risco aumentado de morte do bebê quando comparou-se aos nascimentos ocorridos em capitais de baixa renda. Foram considerados 7.470 óbitos de menores de um ano ocorridos entre janeiro e dezembro de 2012 e 24.285 nascidos vivos entre janeiro e dezembro de 2012 em 702 serviços de saúde nas 27 capitais do país. O levantamento considerou os registros do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) e do Sistema de Informações de Nascidos Vivos (SINASC). Os resultados do estudo são de artigo na revista “Cadernos de Saúde Pública” de 6 de março.

A autora principal, Lívia Teixeira de Souza Maia, destaca que esse resultado, aparentemente paradoxal, mostra que a desigualdade social está oculta nas cidades mais ricas. “Por trás dessas graves disparidades há altos níveis de privação e até mesmo de exclusão das parcelas mais pobres da população. Os fatores sociais são mais determinantes no Norte e Nordeste e em parte do Sudeste”, afirma. Por meio de uma abordagem multinível, foram avaliados os fatores biológicos mediados pelos fatores socioeconômicos da mãe e acesso às consultas de pré-natal. O perfil majoritário das mães que tiveram filhos que morreram no primeiro ano após o parto é ser solteira, divorciada ou viúva, sem ocupação remunerada e da raça não branca.

O trabalho evidencia que o baixo peso ao nascer é o fator individual de maior influência na saúde e sobrevivência do recém-nascido. A prevalência de baixo peso entre os sobreviventes foi de 8,8% e entre os que morreram foi de 66,1%.  Essa variável, ressalta a pesquisadora, anda em paralelo com questões relacionadas com extremos de idade materna, presença de malformações congênitas, história prévia de natimorto, tabagismo na gravidez, baixa escolaridade da mãe, ganho de peso materno insuficiente, hipertensão arterial, sangramento vaginal, infecção do trato geniturinário e baixa qualidade da assistência pré-natal. “No geral, as variáveis biológicas são mediadas por todo o contexto social que a mãe está inserida”, analisa Lívia Maia.

Faixa etária e contexto social das mães 

O estudo mostra que o risco de morte é maior entre os filhos de mães adolescentes. Essa condição foi observada em quatro das cinco regiões, com ênfase para o Centro-Oeste. Por sua vez, ser mãe pela primeira vez a partir dos 35 anos se mostrou um fator protetor para os bebês. “Embora ter o primeiro filho mais tardiamente possa ser biologicamente mais associado com potenciais complicações, essas mães, no geral, se planejaram melhor para esse momento, estão com a carreira mais consolidada e com melhor acesso aos mais bem estruturados serviços de saúde”, enfatiza a pesquisadora.

O trabalho evidencia que o cenário de desigualdade é mais presente entre as gestantes do Norte e do Nordeste. Entre elas é mais prevalente o menor número de consultas e de pior qualidade. Na outra ponta estão as mulheres das classes sociais mais privilegiadas que, afirmam os autores, é  mais comum que elas sejam mais saudáveis durante a gravidez, além de terem mais recursos para gerar e manter os filhos mais saudáveis. Os dados reforçam a importância de ações intersetoriais para melhor a condição de saúde para as populações.

Agência Bori