Lula na China e o fortalecimento do BRICS

Por Rafael Henrique Zerbetto

A visita do presidente Lula à China, do dia 12 ao dia 15 deste mês, talvez seja lembrada, num futuro próximo, como um marco no desenvolvimento das relações bilaterais entre os dois países. No campo econômico, trata-se de duas economias que se complementam e possuem grande potencial para ampliar parcerias mutuamente benéficas.

Prevista inicialmente para o fim de março, com duração de quatro dias, a visita acabou sendo adiada por motivo de saúde. Parte da comitiva presidencial, incluindo o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, já se encontrava na China e deu prosseguimento a diversas agendas, obtendo resultados importantes, dentre eles o fim do embargo à carne bovina brasileira.

Com diversos eventos acadêmicos e empresariais já realizados, resta a Lula cumprir as demais agendas anteriormente previstas, sendo a mais importante delas a visita ao presidente chinês, Xi Jinping, no dia 14, quando deverão ser anunciados importantes acordos bilaterais.

O primeiro compromisso oficial do presidente Lula na China foi uma visita à sede do NBD – Novo Banco de Desenvolvimento (banco do BRICS), presidido pela ex-presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, na manhã de hoje. A escolha de Dilma, um dos mais importantes quadros à disposição de Lula, indica que a instituição é vista como um ativo estratégico pelo governo brasileiro. Mais que isso, Dilma, quando ocupava a presidência do Brasil, teve papel fundamental na criação do banco, e sua escolha para presidi-lo também sinaliza que o BRICS terá papel central na política externa do governo Lula.

As recentes mudanças no cenário internacional tornam o NBD ainda mais necessário: o sistema de Bretton Woods mostra-se incapaz de garantir os interesses dos países emergentes, uma vez que permite a banalização de sanções econômicas unilaterais e o uso do sistema financeiro internacional como arma geopolítica por parte das grandes potências. É importante que os BRICS desenvolvam, em conjunto com outros emergentes, sistemas alternativos de financiamento e transações internacionais. Dentro desse contexto, Brasil e China concordaram em estabelecer um sistema de pagamentos independente do dólar para suas transações bilaterais, o que não apenas torna o comércio entre os dois países menos vulnerável a sanções dos EUA, como também reduz custos, beneficiando os exportadores.

Ao longo da história, diferentes povos precisaram competir por recursos e territórios, criando um ambiente internacional baseado na desconfiança e na lei do mais forte. Tal modelo de desenvolvimento explorou à exaustão os recursos e causou, como efeitos colaterais, problemas que atravessam fronteiras, como o aquecimento global e uma alarmante perda de biodiversidade, tornando imperativa uma ação conjunta pelo futuro do planeta. Ao propor a Iniciativa de Civilização Global, o presidente chinês Xi Jinping demonstra uma clara compreensão de que o antigo modelo de desenvolvimento, baseado em competição e conflito, está caduco, e precisamos substituí-lo por um novo, baseado na cooperação internacional e no respeito às diferenças.

Neste novo cenário, o BRICS, enquanto grupo heterogêneo capaz de cooperar pragmaticamente e ao mesmo tempo respeitar as diferenças, apresenta uma tendência natural ao protagonismo no mundo multipolar que vai sendo construído. Não é por acaso que China e Índia, justamente as duas civilizações mais antigas do BRICS, devem se tornar as duas maiores potências mundiais até o fim deste século.

Dentre os acordos que devem ser anunciados amanhã por Lula e Xi, espera-se que os dois presidentes lancem uma Coalizão Global Contra a Pobreza e a Fome, aberta à participação dos demais países. Trata-se de mais uma iniciativa importante que, se for explorada corretamente, poderá abrir uma nova frente de atuação para o BRICS e colocá-lo na vanguarda da luta contra os maiores flagelos da humanidade.

Fonte: China Hoje

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