Lula encontra Zelensky em Nova York, presidente brasileiro defende negociações e neutralidade

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem duas reuniões bilaterais nesta quarta-feira (20) em Nova York, nos Estados Unidos: com o presidente Joe Biden e com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky. Nesses encontros, Lula visa firmar o papel do Brasil como líder do Sul Global.

Luciana Rosa, correspondente da RFI em Nova York

“O Brasil está de volta.” A frase de efeito que o presidente Lula tem usado desde que reassumiu a presidência, em janeiro, foi repetida nesta terça-feira (19) diante dos membros das Nações Unidas e faz parte de uma estratégia de posicionar o Brasil como um líder internacional.

A agenda de Lula será aberta pelo encontro com o anfitrião, o presidente americano, Joe Biden, seguido pelo lançamento da “Iniciativa Global Lula-Biden para o Avanço dos Direitos Trabalhistas na Economia do Século XXI”. A iniciativa busca estimular a criação de empregos de qualidade e proteger trabalhadores que atuam nas plataformas digitais, além de promover os direitos trabalhistas.

O Brasil e a própria experiência e a representatividade de Lula como ex-sindicalista são colocados a serviço de uma tentativa de Biden de se mostrar sensível à causa dos trabalhadores. O encontro acontece em um contexto pré-eleitoral complicado nos Estados Unidos, no qual o democrata está tendo de lidar com greves que vão do setor automotivo até os roteiristas de Hollywood.

Guerra na Ucrânia

A segunda reunião de Lula, e que possivelmente deverá tomar as manchetes dos jornais em função dos desencontros e troca de farpas anteriores, é a bilateral com o presidente da Ucrânia, Volodomyr Zelensky. O encontro foi confirmado pelo Palácio do Planalto às 16h de Nova York. Esta será a primeira conversa cara a cara entre os dois líderes, que já conversaram no início de março por videochamada, antes do mal-estar gerado pelo desencontro no G7 de Hiroshima, em maio.

Em seu discurso na ONU, Lula reiterou o sentimento de que “é preciso trabalhar para criar espaço para negociações” e disse que “a guerra na Ucrânia escancara a incapacidade coletiva de fazer prevalecer os propósitos e princípios da Carta da ONU”. Zelensky, que estava na plateia, não aplaudiu.

A participação de Zelensky na 78ª Assembleia Geral das Nações Unidas não entusiasmou a plateia presente. Ele acusou a Rússia de cometer vários crimes, entre eles o de “genocídio”.

O encontro desta quarta-feira é a grande chance de Lula para reverter as críticas que recebeu do ocidente por ter uma posição considerada branda em relação à Rússia.

A relação com Zelensky ficou tensa desde que Lula disse que o líder ucraniano é “tão responsável” pela guerra quanto o presidente russo, Vladimir Putin.

Desde o início da ofensiva na Ucrânia, o Brasil se recusou a fornecer armas à Ucrânia ou a impor sanções contra a Moscou.

Lula tem procurado posicionar o Brasil como um potencial mediador no conflito, juntamente com outros países “neutros”, incluindo China, Índia e Indonésia.

Um encontro entre os dois havia sido arquitetado durante a reunião do G7, em maio, no Japão, mas a tentativa fracassou.

O presidente Lula tem ainda duas reuniões na agenda, uma delas com o líder da Organização Mundial da Saúde (OMS), antes de embarcar de volta ao Brasil.

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