“Leva quem tiver mais voto”, diz Bolsonaro após debate marcado por ataques pessoais

Analista diz à RFI que houve alguns deslizes de Lula e Bolsonaro durante o debate na TV Globo na sexta-feira (28). No entanto, há poucas chances de que o duelo possa ter um impacto relevante na eleição de domingo (30).

Raquel Miura, correspondente da RFI em Brasília

Troca de acusações e pouquíssimas propostas num debate truncado onde o que mais se ouviu foi “você é mentiroso” de ambas as partes. Tanto que a frase mais importante veio depois que o debate da TV Globo terminou, quando uma das âncoras da emissora perguntou se Jair Bolsonaro (PL) vai respeitar o resultado das urnas, mesmo se não ganhar.

“Não há menor dúvida, quem tiver mais votos, leva. Assim que é a democracia”, afirmou o candidato à reeleição.

Os dois adversários foram para o confronto final da TV com dois objetivos. Evitar uma derrapada que pudesse lhes tirar votos já computados nas pesquisas e aumentar a rejeição do adversário, com vistas a conquistar os poucos e cruciais votos dos indecisos.

Um dos primeiros embates foi sobre o salário mínimo: “Eu dei 74% de aumento para o salário mínimo. O meu adversário não deu nenhum aumento nesses quatro anos. Apenas repôs a inflação e em alguns anos nem cobriu a inflação”, disse Lula Inácio Lula da Silva (PT).

“Nós aumentamos o salário mínimo pelo menos com base na inflação. Mas nós atravessamos uma pandemia e uma grave crise mundial. Fizemos o que foi possível”, retrucou Bolsonaro.

Poucas consequências nas urnas

Os dois saíram pela tangente em alguns temas e jorraram números de suas gestões. Leonardo Queiroz Leite, doutor em administração pública e governo pela FGV-SP diz que houve deslize dos dois lados, mas não vê maiores consequências nas urnas.

“Está tudo muito consolidado, são pouquíssimos indecisos. Realmente não vejo um debate tão pobre de ideias, tão carente de propostas para o país, com poderes para influenciar o resultado a tão pouco tempo da eleição”, defende.

O analista também pontuou alguns deslizes dos candidatos. “Sobre Lula vemos que ele de fato não sabe se posicionar de maneira mais enfática quando o assunto é corrupção. Ele tem uma dificuldade nesse que é um ponto fraco da gestão do PT”, afirmou Leite.

Outro momento forte do duelo, segundo o analista, foi quando Bolsonaro disse que assinou mais acordos internacionais que Lula. “Só que o acordo mais importante para o Brasil, que traria mais vantagens, seria o do Mercosul com a União Europeia, que vem sendo negociado desde os anos 1990, avançando governo a governo. Mas Bolsonaro dificulta, impede esse acordo com uma política ambiental destrutiva e com ataques a líderes europeus, com o presidente da França”, ressalta.

Aborto rouba a cena

Em meio a tantos desafios econômicos que o Brasil tem pela frente, a pauta do aborto pesou na campanha e entrou também no debate. Lula leu uma declaração de Bolsonaro feita em 1992 quando o então deputado defendeu a distribuição de “pílulas abortivas”, pois “uma multidão de famintos não teria como servir ao país”.

Bolsonaro rebateu afirmando que esse era um discurso de trinta anos atrás e chamou Lula de ‘abortista’ várias vezes. O petista citou o número de filhos e netos que tem para dizer que é contra o aborto e que essa marca não cola nele.

Outro assunto que rendeu troca de farpas foi Roberto Jefferson, aliado de Bolsonaro que atirou na semana passada contra a Polícia Federal na hora de ser preso.

“Seu modelo de gente pacífica é o Roberto Jefferson com um arsenal de armas atacando a polícia federal. E você mandou seu ministro lá negociar, porque se fosse um negro da favela, você manda atirar”, atacou Lula. Bolsonaro tentou jogar no colo do adversário a amizade com Jefferson dizendo que “vocês dois eram parceiros do crime”.

Para o analista ouvido pela reportagem, a grande dúvida continua sendo como Bolsonaro vai encarar o resultado das urnas se ele realmente for derrotado como apontam as pesquisas, apesar da diferença apertada entre eles. “Acho que esse é ponto expectativa e que aflige muita gente porque já foram dadas opiniões de contestação e de agressões à justiça por parte do presidente”, conclui.

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