LAÍRE ROSADO: São Francisco de Assis não é patrono do Centrão

Os mais novos não conheceram o deputado federal Roberto Cardoso Alves, de São Paulo. Advogado e fazendeiro, era orador eloquente, de voz tonitruante, de grande estatura e conhecido pelo pragmatismo político.

No Congresso Constituinte de 1988 liderou o Centrão, grupo suprapartidário conservador. Para negociar o mandato de cinco anos para o presidente José Sarney, levou ao governo a máxima, “é dando que se recebe” e atribuiu a frase erroneamente a São Francisco de Assis, o santo dos pobres. Robertão, como era conhecido, morreu em acidente automobilístico em 1966, mas a frase cunhada vai sobrevivendo aos tempos.

Houve quem acreditasse que a eleição de Jair Bolsonaro para a presidência da República poderia mudar os rumos do comportamento político no país. Havia uma indisposição do eleitor brasileiro com o partido dos trabalhadores, sobretudo durante a gestão da presidente Dilma Rousseff. Além disso, escândalos se sucediam em vários escalões da administração e a resposta imediata foi a eleição do capitão Bolsonaro.

Em poucos meses, a realidade foi se tornando pior ainda, com um presidente incapaz dominado por filhos de comportamento polêmico. O Brasil caminha novamente para a incerteza na economia e atitudes irresponsáveis levaram à morte mais de 600 mil pessoas acometidas pela Covid-19.
Para garantir a governabilidade, Bolsonaro apelou ao Centrão, que continua com as mesmas características, colocando seus principais representantes como ministros do seu governo.

A negociação com os parlamentares voltou a correr escancaradamente. Orçamento secreto, nomeações, aumento do número de militares em cargos de direção e assim por diante.

Na Câmara dos Deputados, o comentário corrente é que, para conseguir mais alguns votos para aprovar a emenda dos precatórios, o cacife estabelecido foi de R$ 15 milhões em emendas, por cada voto conquistado. Como já vinha acontecendo em emendas anteriores.

É um sinal de que é o dando que se recebe continua sendo a maneira mais fácil de negociar com os parlamentares. O risco, é que haja um calote, pois o governo não teria condições de pagar todos esses compromissos negociados às pressas.

É esperar para ver. Dando certo, vai continuar o dando que se recebe. Fazer o que

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