Laíre Rosado: Quarentena Constrangida

Com uma semana cumprindo uma “quarentena voluntária”, cheguei à conclusão que meus familiares estavam certos quando me pressionaram para que deixasse temporariamente meu trabalho profissional. Para minha surpresa, o mesmo aconteceu com os colegas de trabalho, médicos ou não, insistindo e apelando para que ficasse em casa.

Primeiro foi a esposa, seguida dos filhos. Mais dois ou três dias, os netos entraram na jogada e, por fim, até os sobrinhos passaram a me telefonar, apelando para que não me expusesse tanto, com um risco que poderia ser evitado com um simples isolamento transitório.

Trabalho, como médico, há 50 anos. Em todo esse período, a pandemia do coronavírus foi a maior crise de saúde pública não somente no Brasil, mas em nível internacional que estou presenciando.

Entendo que o dilema profissional que enfrento é vivenciado por outros colegas, tanto por conta da idade e também por que se encontram dentro do grupo de risco da doença. Pela dificuldade que temos em controlar a infecção viral, a melhor opção para os idosos é o distanciamento social.

Na Itália, a pandemia levou ao óbito 25 médicos e mais de 90 estão infectados. No Brasil deve acontecer o mesmo e, em Mossoró, não será diferente. Alguns profissionais, inclusive, estão realizando exames específicos para confirmarem ou infirmarem o temível diagnóstico. Por necessidade, o Governo Federal admite a possibilidade de convocar os que estão no grupo de risco ou acelerar a formatura de estudantes de medicina para que possam atuar na crise.

Um caso recente, emblemático, foi o infectologista David Uip, 67 anos, coordenador do centro de contenção do coronavírus no estado de São Paulo, haver testado positivo para a doença, obrigando-o a continuar trabalhando somente por meios virtuais.

Há informações que a Prefeitura de Mossoró convocará trinta médicos para atendimento temporário, enquanto perdurar a pandemia. O Estado convocou quase mil profissionais médicos, em diferentes especialidades. É preciso urgência nessas providências, ou o Estado e o município poderão ficar sem médicos suficientes para o atendimento à população.

Tudo isso, admitindo que, em Mossoró, os hospitais e leitos de UTIs sejam suficientes para o socorro nos casos mais graves.

 

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