LAIRE ROSADO: O resgate político de Mossoró

Mossoró já foi considerada a cidade mais politizada do Rio Grande do Norte. Era um tempo em que os natalenses preferiam o esporte, com destaque para as torcidas do ABC e do América. Era comum o uso de bandeirolas nas janelas dos carros com troca de buzinadas quando do cruzamento de veículos com passageiros adversários ou aliados.

Houve uma inversão de azimute e a população de Natal despertou mais para a política. Pode ter sido um processo longo, iniciado com Aluísio Alves governador.  O líder costumava fazer longos e frequentes pronunciamentos de proselitismo, utilizando-se de linguagem popular e estimulando posições políticas definidas.

Houve um período de recesso, durante o regime militar, retornando em 1978, no episódio político batizado como “Paz Pública”. Os ex-governadores Aluísio Alves e Tarcísio Maia selam um acordo entre adversários, com o patrocínio dos generais no poder. Neutralizam o senador Dinarte Mariz, contemplando-o com uma reeleição biônica (eleição indireta) e Jessé Freire foi reeleito senador com a oposição sem condições de reagir. A população foi condicionada a aceitar a manobra, chancelando a estratégia das principais lideranças que dominavam o estado.

O MDB pagou um preço muito alto por haver participado desse Pacto, com prejuízo político que demorou a superar.

Em 1986, Geraldo Melo foi eleito governador do estado e retomou a prática do diálogo com o povo, em cadeia com emissoras de rádio. A conversa radiofônica era com todo o Rio Grande do Norte e a população de Natal já participava mais ativamente do diálogo, enquanto Mossoró ia ficando mais distante do foco principal.

Sendo a capital do Estado, é natural que Natal seja o ponto decisivo da política potiguar. E a realidade é que Mossoró não participa mais das grandes decisões políticas do estado. Pela primeira vez, está sem representantes no Congresso Nacional, na Assembleia Legislativa, muito menos indicando o vice-governador do estado, nem ocupa as principais secretarias no Governo Estadual. Não é questão de disputar com Natal, mas é preciso que a cidade volte ao menos a opinar nas grandes decisões, com representantes defendendo seus interesses.

Como os acontecimentos históricos são cíclicos, é possível que essa realidade volte a acontecer. Para isso será necessário eleger um político com raízes na cidade e com visão político-administrativa que possa marcar sua passagem pelo Governo do Estado.

Laíre Rosado Filho é médico e ex-deputado federal

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