LAÍRE ROSADO : Interferência Política Externa

As articulações políticas locais não decidem mais a composição de chapas majoritárias nas eleições estaduais, como acontecia anteriormente. Aqui no Rio Grande do Norte, por exemplo, foi o presidente Lula quem definiu o nome do deputado Walter Alves, do MDB, como candidato a vice-governador, sem escutar a militância e escanteando o atual vice-governador, Antenor Roberto, do PCdoB, que ficou impossibilitado de concorrer à reeleição.

A posição de Lula foi resultado da pressão do MDB do Nordeste, que incluiu a indicação de candidatos do partido em coligações com o PT, em troca do apoio dos governadores a sua candidatura. O próprio Lula veio à Natal para oficializar essa composição que, além de garantir o apoio do MDB no Nordeste a sua candidatura presidencial. Além disso, o nome do deputado Walter poderia ser vantajoso para a reeleição de Fátima Bezerra.

Com Carlos Eduardo a decisão foi local, uma escolha da própria governadora Fátima Bezerra, deixando o senador Jean Paul Prates, do PT, de mãos vazias. Não foi interferência do ex-presidente Lula nem apoio de importantes representantes do PT estadual, mas estratégia do staff da governadora.

Seguindo o exemplo do MDB, o PSB nacional, que já indicou o candidato a vice-presidente da República, o ex-governador Geraldo Alkmin, quer repetir a manobra do MDB em relação às coligações estaduais. O presidente do partido, Carlos Siqueira, resolveu endurecer o jogo e passou a exigir que o PT oficialize o apoio ao deputado federal Rafael Motta como candidato ao Senado pelo nosso estado. Em troca, o PSB retira o nome de Márcio Freire, pré-candidato a governador no estado de São Paulo e passa a apoiar o nome do PT, Fernando Haddad que, no momento, é o candidato favorito nas pesquisas eleitorais.

O peso político do Rio Grande do Norte, nem de perto, pode ser comparado ao de São Paulo. Porém, trata-se da eleição de um senador que, no Congresso, tem o mesmo peso, pouco importando o estado que represente.

Supondo que o presidente do PSB saia vitorioso nesse projeto, difícil de ser executado. Carlos Eduardo seria afastado da aliança política atual e Rafael Motta seria o candidato da coligação com o PT, homologado na convenção. Isso pode parecer impossível, mas acontecendo, teremos uma eleição majoritária em que dois candidatos, um, a vice-governador e outro, a senador, teriam seus nomes definidos no eixo Brasília-São Paulo e impostos às lideranças locais que, simplesmente, acompanhariam o movimento político nacional, acomodando-se às suas sinuosidades.

 

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