LAÍRE ROSADO: Engana-me que eu gosto

 

LAÍRE ROSADO, Engana que eu gosto.

Trabalhei como médico concursado do INPS, que depois mudou para INAMPS e, por último, INSS. Além do atendimento no Posto Médico do antigo Hospital Francisco Menescal, hoje Posto Médico do Bom Jardim trabalhava ainda na sede da administração, localizado à rua Auta de Souza número 11.

Certa vez, atendi a uma senhora que foi logo avisando que não estava doente nem procurava orientação previdenciária. O seu problema, disse ela, era conseguir um emprego para o seu filho que estava entrando em depressão por não encontrar um local para trabalhar e sabia que, se eu quisesse, conseguiria esse emprego.

Expliquei, pacientemente, que não tinha condições de atender ao seu pedido. Eu mesmo estava na função por haver sido aprovado em concurso público. Depois, não era dono de empresas que pudessem atender ao seu pedido. Ela não desistiu e continuou insistindo que eu tinha como conseguir o trabalho para o filho, pois sabia que tinha políticos na minha família e ela poderia trocar o voto por um trabalho para o filho.

Depois de algum tempo de falação, olhou fixamente para mim e disse que estava muito decepcionado. Sabia que se eu tivesse um pouquinho mais de interesse o filho estaria empregado no dia seguinte.

Depois de pedir desculpas, pela enésima vez, ouvi sua declaração final: a minha tristeza é que eu queria ouvir uma promessa, mesmo que ela não pudesse ser cumprida. Era melhor que ouvir a resposta de que não poderia ser atendida.

Nesse dia, aprendi a conhecer o tipo de eleitor que gosta de ser enganado, mesmo que, depois, assuma posição de revolta contra o político. Conheci eleitores vítimas de promessas não cumpridas, mas continuando a votar no mesmo candidato. Alguns até mandam plastificar o compromisso deixado por escrito pelo candidato a cada eleição, durante a visita recebida. Comportamentos como esses é uma demonstração de que  os eleitores, mesmo não acreditando nos políticos, utilizam as promessas de emprego ou de outros pedidos não atendidos, até para ter argumentos contra os políticos. Aliás, nas disputas proporcionais, grande parte dos eleitores não lembra o candidato em quem votou nas última eleições. Na verdade, existem os que sentem prazer em serem enganados.

Deixe um comentário