LAÍRE ROSADO: De Aldous Huxley a John Lennon

Sempre acreditei na possibilidade de um mundo melhor. Entretanto, melhor em que sentido? Antes de tudo, seria preciso afastar a insatisfação inerente ao ser humano. Para mim, que já estou perto dos 80 anos, posso dizer que já passei pelas mais diferentes experiências, das mais sublimes às mais radicais.

A juventude atual nem de perto imagina o que foi viver na Mossoró do passado, quando ainda não havia energia elétrica e, até mesmo, a água, que era trazida no trem e distribuídas no lombo de jumentos. Isso para quem não tinha uma grande cisterna para armazenar a água das chuvas, quando havia um bom inverso. Geladeira, só as que funcionavam no sistema à gás, privilégio de poucas famílias. O cinema era projetado em telas pequenas, antes que o progresso trouxesse as telas panorâmicas, o cinemascope. Bem, não dá para comparar essa época com os dias de hoje, onde o progresso está constantemente atropelando pequenos avanços, até chegarmos à Inteligência Artificial. São muitos os acontecimentos inexistentes, tidos como inatingíveis, que se tornaram realidade.

Os mais sonhadores tinham suas imaginações alimentadas pelo escritor francês Júlio Verne cujas previsões passadas são realidades nos dias de hoje. É possível recordar os fatos com a leitura de seus livros como Cinco Semanas em um Balão, O Capitão Hateras, um capitão que sonhava chegar ao Polo Norte, Viagem ao Centro da Terra, Da Terra à Lua, Os Filhos do Capitão Grant, À Volta da Lua, Vinte Mil Léguas Submarinas, o livro narra as aventuras do Capitão Nemo, um enigmático e brilhante homem que construiu um submarino e com ele dedicava-se a percorrer os mares, estudando e desbravando o fundo dos oceanos.

Quem viveu nesse passado e pôde acompanhar todas essas transformações, tem mais que se alegrar por haver participado desses fatos. E, o que é mais importante, acreditar no futuro, para as gerações que sucederão a minha. Tudo isso veio à tona ao lembrar a leitura de Aldous Huxley que muito me impressionou. Em um mesmo volume, Admirável Mundo Novo, 1932 (entre as duas Grandes Guerras) e As Portas da Percepção, Entre o Céu e o Inferno (1954)

Os que leem o Admirável Mundo Novo são necessariamente levados à leitura de George Orwel, em seu “1984”, publicada em 1949. Os acontecimentos se passam no então distante”1984″, no qual a Terra seria devastada por uma guerra mundial e passaria a ser governada por três superestados totalitários. Nesse mundo opressivo, o governo é comandado pelo Partido, e seu líder máximo é o Big Brother, o Grande Irmão.

Durante anos fiquei marcado com a fantasia de Huxley, retratando um mundo sem guerras, revoluções e conflitos sociais. A ordem político-social tinha o objetivo maior de maximizar a felicidade de todos e de cada um. E cheguei a acreditar que alguma coisa nesse sentido poderia ser alcançada.

Em 1971, em tempos e situações diferentes, John Lennon trouxe ao mundo sua convocação para a Paz, a eterna busca do sonho utópico e pacifista, com sua obra prima musical, “Imagine”, onde o autor nos convida a imaginar vivendo em um mundo sem nenhum inferno sob os nossos pés e, acima de nós, apenas o Céu.

Para os mais jovens, vale a pena participar desse sonho que, algum dia poderá se tornar realidade.

 

Laíre Rosado, médico e ex-deputado federal

 

 

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