Julho deve ser o mês mais quente de todos os tempos, diz ONU; Biden fala de ameaça “existencial”

Depois de várias semanas de calor intenso em três continentes, a Organização Meteorológica Mundial das Nações Unidas e o Observatório Europeu Copernicus anunciaram ter dados suficientes para dizer que julho de 2023 "será certamente o mês de julho mais quente da história de medições" e, provalmente, "o mês mais quente de uma forma mais geral."

 

De acordo com as duas instituições, essa situação é uma amostra do futuro climático do planeta. Enquanto a Grécia e o Canadá lutam contra os incêndios, o sul da Europa e dos Estados Unidos, o norte da África e uma parte da China enfrentam o calor intenso e, em alguns casos, enchentes.

A anomalia das temperaturas medidas pelo Observatório, que tem dados completos desde 1940, é tão grande que não é preciso esperar até o fim do mês para comfirmar o recorde de julho, segundo Carlo Buontempo, diretor do serviço climático de Copernicus. O mais preocupante, diz, é que as temperaturas são provavelmente as mais elevadas em milhares de anos.

Essa situação é a prova cabal das consequências da atividade humana sobre o clima, estimam as duas instituições. Em entrevista à imprensa, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, não escondeu seu alarmismo. “A era do aquecimento global acabou, estamos na era da ebulição mundial”, disse à imprensa. “As mudanças climáticas estão aí e isso é aterrorizante. Este é apenas o início”, alertou.

Ameaça existencial

Para o presidente americano, Joe Biden, o aquecimento global é uma ameaça existencial.

“Não sei se ainda é possível para alguém negar o impacto das mudanças climáticas”, declarou, reagindo ao anúncio da ONU. Atualmente, disse, cerca de 100 milhões de americanos são afetados pelas ondas de calor.

Biden deu exemplos chocantes, como o de uma mulher que caiu de sua cadeira de rodas e, exposta ao sol, morreu sob o calor no Arizona, no sudoeste dos Estados Unidos. Ele também anunciou um plano de investimentos na transição energética, para reforçar a capacidade de estocagem de água no oeste dos Estados Unidos e melhorar o sistema nacional de previsão meteorológica.

A onda de calor nos EUA atinge cerca de 100 milhões de pessoas
A onda de calor nos EUA atinge cerca de 100 milhões de pessoas REUTERS – David McNew

É preciso agir e não gerar terror, diz novo presidente do IPCC

O novo presidente do do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima da ONU), Jim Skea, recém-eleito, é otimista quando a possibilidade de ação.

Em entrevista à agência AFP, ele disse que os eventos climáticos extremos são uma “lição” e é essencial propos à humanidade “formas positivas” para enfrentar esse desafio, e não apenas “mensagens catastrofistas que podem gerar um sentimento de terror existencial sobre o futuro da Terra.”

“Não se trata somente de se adaptar, mas reconhecer que esta é a crise mais grave que nossa civilização já enfrentou”, reagiu David King, ex-emissário britânico para o clima.

O acordo de Paris, de 2015, coloca metas para que a temperatura média do planeta se mantenha abaixo dos 2º e, se possível, a 1,5º desde a era pré-industrial. Para atingir esse objetivo, o IPCC estima que as emissões de gases que provocam o efeito estufa devem diminuir em 43% até 2050.

A questão agora é saber se os próximos relatórios do Giec, esperados entre 5 e 7 anos, não serão divulgados tarde demais, e perto do fim de uma década crucial para uma resposta mundial ao problema. Para Jim Skea, é preciso evitar a precipitação na divulgação dos dados, que ameaçam a credibilidade do grupo de especialistas da ONU.

(Com informações da AFP)

Deixe um comentário