Julgamento sobre ataque contra padre decapitado na França busca compreender selvageria de jihadistas

O crime ocorrido em 26 de julho de 2016 na pequena paróquia de Saint-Etienne-du-Rouvray, na periferia de Rouen, deixou os franceses consternados e teve repercussão internacional, pois foi o primeiro atentado contra um religioso católico no auge da onda jihadista na Europa. Em solidariedade a familiares do padre, muçulmanos participaram de missas na semana seguinte ao ataque para demonstrar sua indignação.

O tribunal especial constituído para julgar os envolvidos na morte do sacerdote vai se concentrar no papel que tiveram Jean-Philippe Jean Louis, Farid Khelil e Yassine Sebaihia. Os três homens são acusados de “associação criminosa terrorista”. A Justiça suspeita que eles conheciam o projeto de ataque à igreja, compartilhavam a ideologia dos agressores e tentaram viajar à Síria um mês antes do crime, para se juntar a outros grupos terroristas.

O grande ausente do processo é o suposto mentor do ataque, Rachid Kassim. Ele é acusado de cumplicidade no assassinato do padre Hamel por “ter incentivado e facilitado” a ação. Kassim, um conhecido propagandista francês do grupo terrorista Estado Islâmico, foi supostamente morto em um bombardeio no Iraque em 2017

O atentado
Os dois agressores mortos pela polícia, Adel Kermiche e Abdel-Malik Petitjean, tinham 19 anos de idade. Eles invadiram a igreja de Saint-Etienne-du-Rouvray por volta de 9h30 da manhã. Era uma terça-feira e havia poucas pessoas presentes, apenas um casal de fiéis idosos e três freiras. Armados com um facão e um revólver, eles atacaram o padre no pescoço e ainda fizeram uma das religiosas filmar a cena com um celular. Em seguida, feriram outras pessoas com a faca. Uma das freiras conseguiu fugir e chamar a polícia.

Na época, a Europa era alvo de uma série de atentados jihadistas, enquanto uma coalizão internacional, com o apoio militar da França, lutava contra os extremistas islâmicos na Síria e no Iraque.

Questionamentos
O julgamento vai até 11 de março. Nas próximas quatro semanas, as vítimas e seus familiares esperam que os interrogatórios dos acusados e a exposição dos elementos recolhidos durante as investigações ajudem a “compreender” o que aconteceu. “Entender quem foram os executores e seus motivos”, de acordo com Christian Saint-Palais, advogado das irmãs de Jacques Hamel, Roseline e Chantal. Elas querem saber por que o irmão, “um homem de paz”, tornou-se alvo do terrorismo e se o sistema de prevenção de atentados falhou, já que um dos agressores era obrigado a usar uma tornozeleira eletrônica no momento do ataque, depois de tentar viajar para a Síria.

Guy Coponet, presente na missa e cuja esposa ficou gravemente ferida, “quer entender (…) como os jovens recém-saídos da adolescência puderam cometer esses horrores”, disse seu advogado, Méhana Mouhou. Aos 92 anos, sua presença no tribunal busca homenagear Hamel e sua esposa.

Para Béranger Tourné, advogado de Jean-Philippe Jean Louis, os três réus estão sendo artificialmente “vinculados” ao ataque. A acusação, no entanto, descreve seu cliente de 25 anos como “muito ativo” nas redes jihadistas.

Farid Khelil, primo de Abdel-Malik Petitjean e em contato com Rachid Kassim pelo aplicativo de mensagens Telegram, teria apoiado o desejo de seu primo de agir. De acordo com seu advogado Simon Clemenceau, este homem de 36 anos “não estava ciente” da preparação do ataque.

Em relação a Yassine Sebaihia, 27 anos, que visitou brevemente os dois agressores em Saint-Etienne-du-Rouvray em 24 de julho, antes de retornar a Toulouse (sul), “ele não sabia o que estava sendo preparado”, segundo sua advogada, Katy Mira.

Desde a onda de ataques jihadistas que abalou a Europa alguns anos atrás, a Justiça condenou vários de seus autores à prisão perpétua, como no caso do atentado ao Museu Judaico de Bruxelas, em 2014, ou da revista satírica Charlie Hebdo, em 2015, em Paris.

Atualmente, uma corte especial está julgando os supostos autores dos atentados de 13 de novembro de 2015 contra o Stade de France, os bares e restaurantes de Paris e a casa de espetáculos Bataclan. Essa série de ataques coordenados, reivindicados pelo grupo Estado Islâmico, deixou 130 mortos e mais de 400 feridos, e é considerada a mais letal ocorrida na capital francesa desde a Segunda Guerra Mundial.

(Com informaçoes da AFP)- RFI

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