Juízas na Copa do Mundo: brasileira está entre as seis mulheres que apitam no Catar

A brasileira Neuza Back atua como bandeirinha, ao lado da mexicana Karen Diaz Medina e da norte-americana Kathryn Nesbitt, fazendo história nessa Copa do Catar 2022. Árbitras mulheres como a francesa Stéphanie Frappart, a ruandesa Salima Mukansanga e a japonesa Yoshimi Yamashita apitam pela primeira vez na maior competição do futebol mundial masculino.

Texto por RFI

Yoshimi Yamashita confessou à imprensa internacional que quase foi “arrastada” para arbitrar sua primeira partida. A japonesa agora fará história ao se tornar uma das primeiras árbitras femininas em uma Copa do Mundo masculina no Catar, nação onde as mulheres ainda precisam pedir autorização aos maridos para frequentarem estádios.

Ela é uma das três mulheres entre os 36 árbitros de campo selecionados pela Fifa para a Copa do Mundo (20 de novembro-18 de dezembro), ao lado da francesa Stephanie Frappart e da ruandesa Salima Mukansanga. A catarinense Neuza Back, que se junta a essa impressionante galeria neste Mundial, tem 38 anos e faz parte dos quadros de arbitragem da Federação Paulista de Futebol (FPF), da CBF e da CONMEBOL e da FIFA.

Back, que começou a carreira apitando partidas amadoras da Liga Maravilhense de Desportos, ingressou em 2006 na Federação Catarinense de Futebol, onde teve uma ascensão fulgurante e o talento rapidamente reconhecido. Em 2008 estreou no futebol profissional, no ano seguinte passou na prova da CBF e em 2012 foi comunicada que havia sido incluída na relação de árbitros aspirantes da FIFA, quando passou a atuar nas partidas internacionais.

Ao lado da árbitra Edina Alves, Neuza apitou em quatro partidas da Copa do Mundo Feminina de 2019, na França, incluindo a semifinal entre Estados Unidos e Inglaterra. Agora, se torna uma das pioneiras na história da arbitragem feminina mundial, ao participar do principal campeonato masculino.

Pioneirismo em terreno dominado por homens

O juíza ruandêsa Salima Mukansanga aquece antes da partida de futebol do Grupo B da Copa Africana das Nações (CAN) 2021 entre Zimbábue e Guiné no Stade Ahmadou Ahidjo em Yaounde, em 18 de janeiro de 2022.
O juíza ruandêsa Salima Mukansanga aquece antes da partida de futebol do Grupo B da Copa Africana das Nações (CAN) 2021 entre Zimbábue e Guiné no Stade Ahmadou Ahidjo em Yaounde, em 18 de janeiro de 2022. AFP – KENZO TRIBOUILLARD

A francesa Stéphanie Frappart é uma das principais representantes dessa conquista, tendo feito história ao ser a primeira mulher a dirigir um jogo da Liga dos Campeões masculina (Juventus 3 x 0 Dínamo de Kiev, em dezembro de 2020) e a primeira a apitar no Campeonato Francês masculino.

Para Stéphanie Frappart, também de 38 anos, a Copa do Mundo era apenas o próximo passo lógico em sua ascensão meteórica. Primeira árbitra na segunda divisão francesa (2014), depois na primeira divisão masculina (2019), na Supercopa Europeia (agosto de 2019), na Liga dos Campeões (dezembro de 2020) e na final da Copa da França (7 de maio deste ano), Frappart está agora estabelecida no cenário da arbitragem francesa e europeia.

Há vários anos, elas “têm efetuado uma série de altos desempenhos”, disse a lenda italiana Pierluigi Collina, presidente do Comitê Mundial de Arbitragem.

“Este é o ápice”

“Estou muito emocionada porque isso não era necessariamente esperado. Uma Copa do Mundo é o ápice”, disse Frappart, que tem arbitrado regularmente no futebol francês nesta temporada.

Yoshimi Yamashita, dois anos mais jovem que ela, experimentou um desenvolvimento semelhante no Japão, tornando-se a primeira mulher a arbitrar uma partida da Liga dos Campeões Asiáticos em 2019. Este foi mais um passo para se tornar árbitra profissional, e foi o suficiente para deixar seu trabalho de meio-período como instrutora de fitness.

“Estou feliz por ter a responsabilidade de arbitrar na Copa do Mundo”, disse ela à agência AFP, “mas eu nunca poderia imaginar que acabaria aqui”.

A única razão pela qual ela descobriu a profissão foi a insistência de uma amiga universitária que “meio que a arrastou” para arbitrar em uma primeira disputa, disse ela – que nunca mais largou o apito depois disso.

Salima Mukansanga (34) foi a primeira mulher a arbitrar uma partida da Copa Africana de Nações, em janeiro, e também foi selecionada para o evento de apresentação no Catar, a recompensa final para esta jovem árbitra, que inicialmente sonhava em se tornar um jogadora profissional de basquete. Com apenas 20 anos de idade, ela já arbitrava as partidas do campeonato nacional feminino de Ruanda.

Modelos

A Confederação dos Estados Unidos não fica para trás, com a norte-americana Kathryn Nesbitt. Já a mexicana Karen Diaz, assistente de arbitragem, simboliza os tímidos avanços em um país onde a igualdade de gênero progride lentamente, apesar de um machismo denunciado pelas feministas, que divulgaram recentemente o número de dez feminicídios por dia no México.

Aos 38 anos, Diaz está mostrando às mulheres mexicanas que tudo é possível. “O fato de que nós mulheres somos capazes de alcançar posições importantes e realizar nossos sonhos é o resultado de nosso trabalho constante, mas também daqueles que nos abrem a porta pela primeira vez”, disse.

Ela nunca deixa de prestar homenagem a seu pai, um “fanático” pelo futebol que lhe transmitiu sua paixão. “Comecei a jogar futebol quando tinha oito anos”, lembra-se. Engenheira agrônoma em treinamento, a nativa de Aguascalientes (norte) tem sido árbitra de partidas da Liga Mexicana de Futebol desde 2016.

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