João Sabino de Moura: Ad Immortalitatem

Geraldo Maia do Nascimento - [email protected]

Sábado, dia 10 de julho de 2021. Notícias nas redes sociais davam conta do falecimento do empresário João Sabino de Moura. Essa notícia entristeceu a cidade. João Sabino, além de empresário da rede hoteleira, era também contador, professor universitário, escritor, membro de Academias de Letras, amantes dos livros. Não chegamos a ser muito próximos, mas eu tinha uma gratidão muito grande a ele e sempre que nos encontrávamos, normalmente em eventos culturais, conversávamos bastante. Fomos apresentados pelo professor Vingt-un Rosado, durante uma homenagem que os dois me fizeram. Conto essa história:

Um dia o professor Vingt-un Rosado me ligou, pedindo que eu fosse até a sua casa que tinha um assunto a tratar comigo. Fui no mesmo dia. Estávamos no mês de junho de 2005. Ele falou que tinha um projeto que era o de implantação de bibliotecas regionais nos hotéis de Mossoró, parceria essa onde o hotel entraria com o espaço e a Fundação Vingt-un Rosado com os livros. Serviriam para informar a cada hóspede a história da terra e do homem no chão onde aquele hotel estava instalado.

Falou que certa feita tinha tentado executar um projeto dessa natureza organizando e doando a biblioteca Pedro de Melo ao Hotel Thermas. Convenceu a sua direção que a clientela dos hotéis do Nordeste às vezes se compõem de hóspedes de alta curiosidade intelectual. Seria válido colocar-lhe a sua disposição uma biblioteca pequena que informasse sobre a terra e o homem da região. Foi implantada, mas em pouco tempo a gerência desativou a biblioteca Pedro Batista de Melo.

Mas Vingt-un Rosado era um homem que não aceitava uma derrota fácil. Levou o mesmo projeto para o hoteleiro João Sabino. O acordo era o mesmo: o hotel entrava com o espaço e a Fundação Vingt-un Rosado entrava com os livros necessários. E nesse novo acordo Vingt-un fazia uma exigência: que o patrono de cada biblioteca seria escolhido por ele. Falou que João Sabino tinha concordado em instalar uma pequena biblioteca em cada um dos seus hotéis e que já estava preparando o espaço no Sabino Palace, de Mossoró, onde seria implantada a primeira dessas bibliotecas, e que o patrono escolhido seria Geraldo Maia. A biblioteca Nonato Maia batizaria a unidade do Apodi. Nonato foi um grande cronista da história do Apodi. A biblioteca Raimundo Nonato seria instalada no hotel de Martins. Raimundo Nonato, que chegou a Mossoró numa caminhada heroica, a pé, faminto e analfabeto, venceu na vida como profissional e escritor, tendo a Coleção Mossoroense publicado mais de 30 títulos seus. A unidade de Portalegre iria se chamar Assis Silva, que foi um líder cultural, humilde, bom e simples. Fundou diversos periódicos. A biblioteca de Natal receberia o título de Hélio Galvão, o autor das famosas Cartas da Praia, o estudioso erudito do mutirão, o autor de um livro clássico sobre a Fortaleza dos Reis Magos. Para Vingt-un, a instalação daquelas bibliotecas que João Sabino estava promovendo, iria representar um novo capítulo da biblioteconomia brasileira. Confesso que enchi os meus olhos de lágrimas com essa homenagem. Eu estava sendo comparado aqueles consagrados nomes da literatura potiguar por Vingt-un Rosado e João Sabino.

Dessa forma, no dia 14 de junho daquele ano de 2005 compareci ao Sabino Palace, com minha família, para a inauguração da biblioteca. Festa simples, mas muito significativa, com as presenças de Vingt-un Rosado, Raimundo Soares de Brito, Wilson Bezerra de Moura, Paulo Gastão, do poeta Antônio Francisco e de muitos outros personagens do mundo literário. Em seu discurso, João Sabino disse que só naquele momento tinha me conhecido, mas se era por indicação de Vingt-un, a homenagem era merecida. Nascia ali a nossa amizade. Mesmo após todos esses anos, a pequena biblioteca ainda existe, na recepção do Sabino Palace, onde uma placa informa: “Biblioteca Geraldo Maia – uma extensão da Coleção Mossoroense”.

João Sabino seguiu o projeto de Vingt-un e instalou todas as bibliotecas previstas com os respectivos patronos. Só faltava a de Areia Branca.

Em 21 de dezembro de 2005 Vingt-un Rosado veio a falecer. E João Sabino inaugurou a última biblioteca dos seus hotéis, dando a ela o nome do criador do projeto, o professor Jerônimo Vingt-un Rosado Maia. Uma justa homenagem aquele que, parafraseando o poeta, “semeou livros a mão cheia”.

Mesmo com o sentimento de pesar pela morte de João Sabino, me veio à mente o belíssimo verso de um poeta: “Tombou, caiu, mas não morreu! “ Sim! Não morreu! Vive e viverá na memória e na gratidão de todos que com ele conviveram.

 

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