Joacir Rufino e José Aldemir – A dinâmica da produção de melão no RN

A produção de melão irrigado cresceu substancialmente no Brasil nos últimos 20 anos. Segundo a Pesquisa Agrícola Municipal (PAM), do IBGE, se no ano de 1995 os agricultores brasileiros produziram 159.267 toneladas da fruta, em 2015 o número saltou para 521.596 toneladas, o que representa um crescimento de 227%. Esse ganho de produção ocorreu, principalmente, pela expansão das lavouras na região Nordeste, aonde se concentra a maior área cultivada dessa fruta no país.

Entre os estados nordestinos, os dois principais produtores são o Ceará e o Rio Grande do Norte (RN), que lidera o ranking nacional na produção e na quantidade exportada de melões. Juntos, eles respondem por praticamente 75% da produção brasileira, conforme a fonte citada anteriormente.

A produção média de melão no RN, de forma isolada, tem se mantido em torno de metade do total nacional ao longo da série estatística analisada (1995-2015). Recentemente, contudo, a sua participação percentual foi ampliada pela migração de empresas do Ceará, alcançando a cifra de 52% no final de 2015. A queda da produção do Ceará e sua consequente migração para as terras potiguares se deveu à crise hídrica naquele estado, que tem sido mais grave do que nas áreas produtoras norte-rio-grandenses.

Note-se que há uma diferença fundamental na oferta hídrica para irrigação do melão no Ceará e no RN, haja vista que nossa produção se desenvolve majoritariamente a partir de poços tubulares. No Ceará, por sua vez, a maior parte da produção ocorre utilizando águas superficiais, tendo como principal fonte de abastecimento a bacia do Rio Jaguaribe. Logo, a crise hídrica dessa bacia, com recuo acentuado da área perenizada da mesma, expulsou do referido estado um grande número de produtores que migraram para o RN, sobretudo para aquelas regiões onde havia maior disponibilidade de água para irrigação.

Mas nem todas as regiões do RN com oferta hídrica disponível registraram ganhos de produção com a debandada de empresas do território cearense. Em Baraúna, em função da superexploração do lençol freático e da baixa reposição dos estoques de água subterrânea ocasionada pela escassez de chuvas, também ocorreu uma forte queda na produção de melão. Por outro lado, Tibau, Mossoró, Galinhos e Apodi foram os municípios que mais aumentaram a área cultivada no período entre 2014 e 2015.

Quanto à distribuição geográfica, uma característica marcante da cultura do melão no RN é a sua forte concentração espacial. Em 2015, último dado disponível do IBGE, das 271.361 toneladas de melão produzidas pelos produtores norte-rio-grandenses, 98% estavam concentradas em somente seis dos 167 municípios do estado, a saber: Mossoró (69%), Tibau (14%), Baraúna (6%), Galinhos (4%), Macau (3%) e Apodi (2%).

É pertinente destacar que a posição ocupada pelas localidades listadas não é uma realidade estática. Isso porque outra característica da lavoura do melão potiguar é a sua grande mobilidade espacial. A história da nossa fruticultura é marcada por ciclos de expansão e declínio das plantações dessa fruta em alguns espaços específicos da geografia estadual. Nesse sentido, vale registrar os ciclos expansivos da produção de melão em municípios como São Miguel do Gostoso, Parazinho, Jandaíra e Pedra Grande (todos compondo uma mesma região), os quais não tiveram sustentação no longo prazo.

Outro caso exemplar nessa direção é o da microrregião do Vale do Açu, que viu sua produção de melão despencar depois da falência da FRUNORTE, nos anos 1990, mas parece iniciar um novo ciclo de crescimento da atividade com a chegada de novas empresas atraídas pelos seus solos férteis e, especialmente, por suas abundantes reservas subterrâneas de água doce ainda pouco exploradas pela agricultura irrigada relativamente às demais áreas do estado.

Portanto, em termos de perspectivas, tudo indica que a produção de melão vai continuar sua expansão no campo potiguar, pelo menos enquanto existir reservas hídricas disponíveis. O produto é o principal responsável pelo crescimento recente das exportações do estado e não há sinais de mudança no horizonte próximo. Além disso, a crise de outras culturas comerciais importantes, como a banana, abre oportunidade para o seu desenvolvimento em espaços antes ocupados por essa lavoura, especialmente por grandes empresas agroindustriais, uma vez que a participação dos pequenos produtores na atividade é bastante reduzida.

Resta saber, entretanto, se o RN manterá sua competitividade frente ao Ceará, sustentando o atual padrão de crescimento das suas plantações de melão após a disponibilidade hídrica no estado vizinho ser normalizada. Obviamente que essa normalização ainda levará algum tempo para acontecer. Mas fica a dúvida se, retomada essa oferta normal, não ocorrerá uma nova migração dos produtores, desta vez das terras potiguares para o território cearense. De qualquer forma, vale lembrar que essa “marcha para o Oeste” da cultura do melão já aconteceu antes, e o que estamos assistindo no momento é uma “marcha para o Leste”, tendo como fator determinante a busca por fontes de abastecimento d’água para tocar adiante os empreendimentos ameaçados pela estiagem prolongada.

Joacir Rufino (Economista, professor e pesquisador da UERN).

José Aldemir Freire (Economista e Chefe da Unidade Estadual do IBGE no RN).