Ímpeto e Cautela

“Tivesse Churchill autoridade ilimitada sobre os chefes [das forças armadas], o resultado teria sido desastroso … arriscados apenas em nome da ação e não da busca prudente de objetivos estratégicos. Por outro lado, se as coisas tivessem sido deixadas inteiramente nas mãos dos chefes de Estado-Maior, a cautela poderia ter impedido muitas iniciativas úteis.”

Churchill é hoje idolatrado (já li dezenas de livros sobre ele) pelo papel decisivo que teve para a vitória contra o Nazismo na Segunda Guerra Mundial e  pela persistência e fé inabalável naquilo em que acreditava. Só depois de muitas derrotas e de ser colocado de lado durante anos no Parlamento britânico, ele foi içado ao maior cargo político da Inglaterra.

Duas coisas todos que já leram qualquer coisa sobre ele sabem é que ele bebia diariamente e fumava muito charuto. Poucos sabem, porém, que logo após a vitória da guerra, Winston perdeu as eleições. Um número menor ainda de pessoas sabe que ao longo da vida sua carreira política não foi de muitas vitórias emblemáticas.

Terminado o breve passeio histórico e voltando ao primeiro parágrafo, uma passagem do livro O Bunker de Churchill, de Richard Holmes, onde fica claro que um precisava de freio e outros precisavam de acelerador; um precisava de ser chamado à sensatez, outros precisavam sair da letargia.

Isso serve para tudo na vida e na política não é diferente. Equilíbrio é a palavra chave. Não adianta ter um bom técnico se não tiver sensibilidade nem um bom político se não tiver as principais características de um líder: capacidade de escutar, ceder, aceitar a possibilidade de ser convencido de que não estava certo, liderar a todos, não somente seus seguidores.

Em momentos de crise, como a que vivemos, precisamos de gente que tenha tanto capacidade técnica como sensibilidade política, gente que compreenda haver “verdades” diferentes e que a diferença na forma de ver as coisas não precisa transformar as pessoas em inimigas nem muito menos que isso signifique necessariamente um estar certo e o outro errado.

Nos últimos anos o nosso País vem vivendo um clima de exagerado “nós contra eles, eles contra nós”, dividindo ainda mais um povo já tão afastado pelos abismos sociais. Ora, eu não preciso ser inimigo de quem defende o aborto, de quem é contra os programas sociais, de quem defende o armamento desenfreado da população, muito menos de alguém que simplesmente não pretende votar na mesma pessoa que eu.

Em A Era do Radicalismo, Cass Sunstein defende a tese de que estamos cada vez mais radicais, que quando pessoas que pensam de forma parecida se unem, os sentimentos se agudizam e se tornam mais violentos, sejam eles sentimentos de caridade ou de ódio. A internet e o mundo globalizado fortalece isso, por exemplo, ao proporcionar  o encontro de um terrorista do Oriente Médio com um jovem negro americano marginalizado pela comunidade e que alimenta revolta dentro de si.

O Brasil não precisa de um governo de loteamento político da Esplanada dos Ministérios, muitos menos de um governo imbecilizado pelo radicalismo. O Brasil precisa de um líder que tenha capacidade de ouvir, de ceder quando isso for bom para todos e de reagir, de dizer não, quando isso não trouxer benefícios para a coletividade.