Gabriela Soares: “sou uma, mas não sou só”. digo mais: é impossível ser todas

 

Parafraseei Sued Nunes pra tentar falar da dificuldade que é atravessar a vida num mundo onde todas as dores tem um conceito, uma categoria, um tempo, uma fase, uma onda. Achei por bem fazer essa analogia, já que ela fala de fé e eu quero falar da fé que tenho nas mulheres. Não estou negando a ciência, principalmente a das mulheres que dedicaram suas vidas a falar de si, das outras, de nós, problematizando a sociedade em que vivemos, mas é inevitável pensar sobre o “como?”.

Em “Tudo sobre o amor”, bell hooks diz: “o amor é uma combinação de cuidado, compromisso, conhecimento, responsabilidade, respeito e confiança”. A partir disso, antes de qualquer romance, quantas de nós olhamos pra si ou para outras mulheres? Vou voltar a reflexão inicial.

Pensando nos últimos dias sobre feminismo, família, dores, acolhimento, comunidade, só e com outras mulheres, resolvi trazer isso pra cá. A reflexão veio de uma constatação coletiva sobre como mulheres buscam estar juntas, mesmo que a sociedade nos separe. Para isso há um motivo: a subjugação imposta. Nascemos, somos e devemos morrer para o lar desde “sempre”. E o lar é, nada mais nada menos, do que a menor unidade de comunidade na qual podemos viver. Porém, esse lar não é o lar da comunidade. O lar em que somos “postas” é o lar do cuidado para que a produção e reprodução social não cesse.

 

 

 

A comunidade das mulheres vai, em grande medida, para além disso. Gosto de pensar nas inúmeras histórias que se cruzam quando olhamos umas para as outras e conseguimos refletir “eu também sou eu essa mulher; essa mulher também sou eu. Essa identificação é cheia de nuances, de diversidades. Não Enquanto o feminismo fala da sororidade, que trata de pensar a união, o acolhimento, a empatia e a solidariedade entre mulheres, o feminismo negro vem nos acender a luz da dororidade, conceito que fala de como as mulheres negras se encontram na mesma solidariedade, empatia e acolhimento, mas através de suas dores em comum. Isso não é falta de identificação, de forma alguma. É o cuidado em enxergar as diferenças, é a busca por mais equidade na luta. Percebam: em tão poucas palavras já podemos apontar tantas diferenças…

 

Diversa. Diversas. Somos muitas ‘unidades’ que carregam em si o coletivo MULHERES. Toda essa conversa é voltada pra levar uma única reflexão ou tarefa, entendam como quiserem: num mundo que tem 50% da sua população formada por meninas e mulheres, nós temos o dever humano de ser, cada uma em seu lugar e a seu tempo, a mudança para todas as outras. Eu quero fazer do mundo uma grande comunidade livre, igual e segura para mulheres.

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