Gabriela Soares: Machismo estrutural e o esvaziamento de pautas femininas no BBB 24

Nos últimos 24 anos, todo mês de janeiro traz para a TV aberta brasileira, uma oportunidade de acompanharmos uma experiência onde pessoas são confinadas em uma casa e vigiadas 24horas por dia, 7 dias por semana, durante 100 dias, em média. O Big Brother Brasil faz com que, do nosso sofá, possamos observar personalidades, histórias de vida, princípios e crenças de pessoas que nunca se viram na vida e são obrigadas a conviver até que apenas uma delas conquiste um prêmio em dinheiro.

Mas o que o BBB tem a ver com machismo estrutural e feminismo? Na edição atual, essas duas temáticas, somadas ao racismo, têm sido muito evidentes – muito mais fora da casa do que dentro dela; enquanto o reality acontece lá dentro, do lado de fora a audiência trata de julgar o que acontece lá dentro, não só elegendo “heróis” e “vilões”, mas refletindo sobre as pautas levantadas por lá.

Como todas as segundas-feiras, no último dia 04, aconteceu o “Sincerão”, que é uma dinâmica para que os participantes, de formas variadas, possam se posicionar sobre o jogo de acordo com a atividade proposta. Após esse momento, o resultado é sempre desentendimento, briga e reorganização de alianças. Acontece que, na última segunda, um dos participantes – favorito entre uns e odiado entre outros – foi acusado, dentre tantas coisas, de ser “assediador”, depois de, em uma briga com a participante Leidy, Davi ter revidado às agressões verbais que sofreu dizendo “quer me dar um beijinho?”; “você é a gostosona”. Porém, não foi somente nesse momento que esse tipo de assunto foi levantado. Uma briga entre as participantes Fernanda e Alane também levantou pautas sérias, como a rivalidade feminina e o julgamento dos corpos a partir de padrões estéticos.

A problemática que desejo provocar para refletirmos é simples: até que ponto os questionamentos e acusações feitos no reality são verdadeiros e, além disso, eles têm contribuído para a luta das mulheres ou afastado a sociedade das pautas que o feminismo constrói? Particularmente, tenho visto uma distorção latente do que de fato é opressão e violência, transformando essas expressões em “armas” no jogo, de forma inconsequente e vazia.

Quando falo em esvaziamento de pauta, aponto para uma tendência dos participantes em geral, de “cavar” uma possibilidade de cancelamento do outro, rotulando posturas visivelmente não relacionadas à machismo, racismo ou assédio, como tais. Não se trata de ignorar quando situações ocorridas na casa devem (e constantemente são) ser alvos de repreensão por parte da produção. É possível citar inúmeros casos de punição aos participantes – expulsão, indiciamento e até condenações judiciais. Isso quer dizer que a produção está atenta aos fatos. Longe de defender a produção/emissora ou qualquer que seja das pessoas confinadas, precisamos voltar nossa atenção ao perigo de tornarmos pautas sérias em coisas sem sentido.

O esvaziamento das pautas ultrapassa os limites do confinamento, podendo afetar diretamente a dinâmica social, permitindo que qualquer posição que imponha discórdia, desacordo ou incomodo possa ser classificada de acordo com lutas históricas importantes para o desenvolvimento da sociedade.

Gabriela Soares

 

 

 

 

 

Deixe um comentário