Francinaldo Rafael – Bezerra de Menezes – o médico dos pobres

No dia 11 de abril de 1900, às 11h30, retornava ao Mundo Espiritual, Adolfo Bezerra de Menezes. Morreu pobre, apesar do consultório médico sempre cheio de clientes. Mas era uma clientela que nem todo médico queria: pessoas pobres, sem dinheiro para pagar o atendimento.

Bezerra de Menezes sempre persistindo no bem e na solidariedade, com esforço e dedicação alcançou as condições de médico, jornalista e político. Não se preocupava com dinheiro. Era-lhe apenas um meio e não um fim. No consultório, quem tinha posses pagava o atendimento. Em casa receitava os que não podiam pagar. Talvez sob olhares atravessados de alguns, Bezerra afirmava: “O médico verdadeiro não tem o direito de acabar a refeição, de escolher a hora, de inquirir se é longe ou perto. O que não atende por estar com visitas, por ter trabalhado muito e achar-se fatigado, ou por ser alta noite, mau o caminho ou tempo, ficar longe, ou no morro; o que, sobretudo pede um carro a quem não tem como pagar a receita, ou diz a quem chora à porta que procure outro – esse não é médico, é negociante de medicina, que trabalha para recolher capital e juros dos gastos da formatura. Esse é um desgraçado, que manda, para outro, o anjo da caridade que lhe veio fazer uma visita e lhe trazia a única espórtula que podia saciar a sede de riqueza do seu espírito, a única que jamais se perderá nos vaivéns da vida”.

Bastava ver um faminto, um sofredor à sua frente e lhe dava tudo o que tinha nos bolsos. E, quando não tinha  dinheiro, doava algo de si: um abraço, um olhar, uma prece. Dava o que possuía. Certa feita ao prescrever medicamentos para uma mulher, essa lhe comentou que não tinha nem para a comida, imagine para remédios. Bezerra procurou nos bolsos e nada encontrou. Tirou seu anel de formatura e sem pestanejar, deu para ela vendesse e comprasse o necessário. Médico dos Pobres foi o apelido que lhe deram por zombaria, mas que ele aceitou com orgulho, dizendo depois que foi o mais honroso título que recebera.

São incontáveis as situações nas quais Bezerra sempre praticou os ensinamentos de Jesus. Seus últimos momentos dão-nos lições comovedoras e instrutivas, revelando sua confiança no Divino Mestre, na missão cumprida, no dever realizado. Sentindo que se aproximava o momento da  desencarnação, pediu que o ajudassem a levantar-se um pouco. Com a cabeça erguida, olhos voltados para cima, orou baixinho entre lágrimas à Virgem Santíssima, para que intercedesse pelos “meus irmãos que ficam, por esses pobres amigos, doentes do corpo e da alma, que aqui vieram buscar no teu humílimo servo uma migalha de conforto e de amor. Assiste-os, por caridade, dá-lhes, Senhora, Tua paz, a paz do Cordeiro de Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo! Louvado seja Teu nome. Louvado seja o nome de Jesus! Louvado seja Deus!” E desencarnou. No seu enterro, gente de toda a cidade do Rio de Janeiro, especialmente dos morros, das favelas, gente humilde, gente descalça, maltrapilha, que ali se misturava com outra gente rica e poderosa. E todos choravam como se tivessem se separado de um pai, do maior de seus amigos!

Bezerra de Menezes foi recebido no mundo espiritual por uma assembleia agradecida pelos benefícios e consolos que proporcionou. Continua tarefeiro incansável, atendendo e iluminando seus irmãos terrestres.