Francinaldo Rafael – Auta de Souza: cotovia das rimas

No transcurso do Dia da Poesia, 14 de março, um nome potiguar, sempre brilhará como imortal das letras, mesmo sem o título da Academia: Auta de Souza, nossa admirável poetisa. Francisco Palma, num soneto que lhe dedica, define-a “a cotovia da rimas.” Andrade Muricy, crítico literário a denominou-a “a mais espiritual das poetisas brasileiras”.

Nascida no ano de 1873, em Macaíba (RN), Auta de Souza, aos sete anos de idade já sabia ler e escrever, fato inédito para a época. Começou a escrever poemas em 1893 e no dia 20 de junho de 1900 publica “O Horto” – seu único livro -, prefaciado por Olavo Bilac. Parecendo antever a morte que se aproximava, a poesia que fecha o livro chama-se “Fio Partido”. Na madrugada de 07 de fevereiro de 1901, aos vinte e cinco anos de idade incompletos, liberta-se do debilitado organismo e alça vôo de retorno ao mundo espiritual.

Perguntado ao médium espírita Francisco Cândido Xavier se alguma produção em particular havia ficado inesquecível em sua memória, ele  respondeu: “Sim, recordo-me de um soneto intitulado Nossa Senhora da Amargura, que, se não me engano quanto à data, foi publicado pelo Almanaque de Lembranças, de Lisboa, na sua edição de 1932. Eu estava em oração, certa noite, quando se aproximou de mim o espírito de uma jovem, irradiando intensa luz. Pediu papel e lápis e escreveu o soneto a que me referi. Chorou tanto ao escrevê-lo que eu também comecei a chorar de emoção, sem saber, naquele momento, se meus olhos eram os dela ou se os olhos dela eram os meus. Mais tarde, soube, por nosso caro Emmanuel (mentor espiritual), que se tratava de Auta de Souza, a admirável poetisa do Rio Grande do Norte”.

Vejamos os envolventes versos de “Senhora da Amargura”:

“Mãe das Dores, Senhora da Amargura,/Eu vos contemplo o peito lacerado/Pelas mágoas do filho muito amado,/Nas estradas da vida ingrata e dura.

Existe em vosso olhar tanta ternura,/Tanto afeto e amor divinizado,/Que do vosso semblante torturado/Irradia-se a luz formosa e pura;

Luz que ilumina a senda mais trevosa,/Excelsa luz, sublime e esplendorosa/Que clareia e conduz, ampara e guia.

Senhora, vossas lágrimas tão belas/Assemelham-se a fúlgidas estrelas:/Gotas de luz nas trevas da agonia.

A partir daí, com a edição em 1931 do livro psicografado por Chico Xavier, Parnaso de Além Túmulo, há uma vasta produção de Auta de Souza através do médium, composta por 89 poesias e 27 trovas. Rediviva, continua incansável trabalhadora no Mundo Espiritual, nos envolvendo em vibrações de amor e paz.